Como as mães feministas educam meninos para a igualdade de gênero
Não tem “para menina” e nem “para menino”: dentro de casa todo mundo é ser humano, e sendo assim, compartilha de todas as atividades domiciliares
atualizado
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Há quem divida o mundo em rosa e azul. A sociedade, muitas vezes, atribui às mulheres o serviço doméstico, o cuidado com os filhos e outras atividades que deveriam ser divididas igualmente com parceiros, independentemente do gênero. No que depender das mães feministas, isso vai mudar. Uma nova geração de homens está sendo criada para mudar essa dicotomia cruel.
A publicitária Marcela Marhera, solteira e mãe do pequeno Gabriel, 4 anos, relata que dentro de casa, apesar da pouca idade, ele já divide tarefas cotidianas e toma a responsabilidade por sua própria organização. “É uma criança muito prestativa. Independente de ser homem ou se fosse mulher, ele tem que fazer as coisas dentro de casa”, afirma.É espantoso que as pessoas tenham uma reação do tipo: nossa, mas ele te ajuda tanto, mesmo sendo homem? Gente, ele é uma pessoa. Ele tem que ajudar sim!
, explicou.
Marcela cria o pequeno sozinha. O pai dele mora em São Paulo, mas mantém contato com o filho constantemente. Em Brasília, moram somente os dois. “Ele é meu parceiro, sabe? Apesar da relação de mãe e filho, ele é meu parceiro. E ele entende isso. Ele entende que somos eu e ele dentro de casa, que ele precisa arrumar o quarto, tirar a mesa, lavar a louça. E o melhor é que ele não vê como obrigação: é uma coisa natural.”
Na cozinha, um banco dobrável fica perto da pia e dos armários, caso Gabriel precise alcançar algo ou lavar a louça. O pequeno é autorizado a lavar tudo que for de plástico, e o faz sem reclamar. Sua mãe conta que prefere criá-lo para ser mais independente.
O menino toma sua mamadeira à noite sozinho em seu próprio quarto, depois leva até a cozinha e volta para dormir. “Prefiro que ele tenha esse espaço e que ele entenda que ele precisa aprender a respeitar o descanso da mamãe e fazer as próprias coisas”, explica Marcela.
Outro ponto importante ensinando por Marcela é a não distinção de gênero. Ela conta que em uma época, Gabriel se encantou e queria brincar com uma boneca. “Para mim estava tudo bem. Se ele quer brincar com a boneca, ele pode brincar. A única coisa que ensino é que ele tem que dar valor em seus brinquedos, mas o que ele gosta ou suas preferências não são um problema”, conta.
A busca pela igualdade de gênero lhe rendeu situações complicadas. Gabriel tem cabelos longos e lisos porque optou assim. “Não tem uma vez em que eu chegue a algum lugar e que ele não seja chamado de ‘ela’, só pelo cabelo”, comenta Marcela.
Em uma situação, estavam em um aniversário de outro amiguinho quando duas crianças mais velhas começaram a caçoar de Gabriel por ele ter os fios compridos. A mãe logo tratou de perguntar: “Vocês nunca viram o wesley Safadão na televisão? Ele é homem e tem o cabelo longo”, conta aos risos. Mas essa foi a saída que tirou o pequeno daquela situação complicada.
Sempre procurei ensinar que não precisa respeitar a mulher porque ela é fraca ou por ela ser mulher. Tem que respeitar porque é um ser humano e nenhum ser humano merece ou deve passar por algum tipo de agressão física ou verbal.
Quem também ensinou os princípios feministas e de igualdade de gênero desde o berço para seu filho foi a bancária Juliana Jardim. Mãe de Natan, 13 anos, ela comenta que essa é uma questão de princípios. “Eu jamais saberia fazer diferente, para mim não há outra opção”, explica.
Natan já é adolescente, e assim como Gabriel, é parceiro e companheiro de sua mãe. Os dois moram juntos e sozinhos. O adolescente pega metrô sozinho, vai à escola e toma suas próprias responsabilidades como um rapaz adulto. “Eu o ensino que somos iguais. Ele tem tantas tarefas dentro de casa quanto eu. Se for homem, se for mulher, vai lavar a louça, varrer a casa e organizar tudo da mesma forma”, comenta.
Os princípios de respeito mútuo ensinaram ao adolescente uma forma mais compreensiva de enxergar o mundo. “Somos só nós dois. Somos melhores amigos. Ele é parceiro, ele é maduro e divide tudo comigo”, comenta a mãe orgulhosa.
Tudo isso se reflete na maneira como ele vê o mundo. Quando vai na casa dos amigos, ele sempre volta falando algo como: ‘mãe, fulano gritou a mãe para trazer seu lanche. Não foi capaz de ir até a cozinha! Fiquei com vergonha por ele’. Me orgulho muito.
Para Juliana, oferecer esse tipo de educação ao filho vai facilitar os relacionamentos futuros que ele tiver. “Ele respeita a mulher, ele respeita a vida. Ele simplesmente respeita, sabe? Essa é uma percepção muito bacana. Eu espero que no futuro mais pessoas consigam ver as coisas desta forma”, finalizou Juliana.