Gianni Infantino: o suplente de Platini vai a campo para salvar a Fifa
O novo presidente da entidade máxima do futebol promete inchar Copa do Mundo e repassar dinheiro pesado para federações
atualizado
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Desta vez, o FBI não irrompeu porta a dentro e ninguém foi levado preso. De modo que a Fifa pôde ir adiante com seu congresso em Zurique, Suíça, para indicar excepcionalmente o novo presidente da entidade máxima do futebol mundial. Joseph Blatter, que tinha sido reeleito para o cargo em maio do ano passado, teve que renunciar em junho devido às acusações de corrupção.
Blatter atualmente está afastado (será?) do esporte por oito anos. Jérôme Valcke, homem de confiança de Blatter e chutador de bundas, foi banido do futebol agora em fevereiro. E Michel Platini, certa feita presidente da Confederação Europeia (Uefa) e futuro presidente da Fifa, teve que abrir mão de suas pretensões ao ser escanteado juntinho a Blatter.
Gianni Infantino, então, é o novo presidente da Fifa. Foi eleito ontem para a presidência da Fifa para um mandato de quatro anos. Poderá tentar até duas reeleições, e não mais se reeleger indefinidamente para o resto da vida, como costumava acontecer por lá antes de Blatter cair em desgraça.
Infantino, possível defini-lo assim sem grande prejuízo, era o Valcke de Platini. No cargo de secretário-geral da Uefa, este advogado ítalo-suíço funcionava como limpa-trilho para as políticas e as pretensões do francês. E Infantino manteve-se fiel a Platini mesmo quando as investigações internas da Fifa apontaram que o ex-craque de bola teria recebido propina de Blatter.
De toda forma, a figura de Gianni Infantino ganhou um viés quase de democrata dentro desse mui específico contexto em que se passaram as eleições da Fifa. O candidato principal ao cargo, até há pouco, era Salman bin Ibrahim Al-Khalifa, presidente da Confederação Asiática e xeque do Bahrein. Assim que seu nome veio a público, entidades internacionais como a Human Rights Watch se pronunciaram contra Al-Khalifa, lembrando que ele é pessoalmente acusado de violações de direitos humanos por conta da repressão política dentro do seu país.
Al-Khalifa era candidato de larga maioria das federações de Ásia e África. Enquanto Infantino, declarado vencedor no segundo turno com 115 dos 207 votos, reuniu em torno de si apoios da Europa e das três Américas. Inclusive o voto da prestigiosa Confederação Brasileira de Futebol, lá representada pela ilustre figura do coronel Antonio Carlos Nunes.
No seu discurso de posse, Infantino prometeu “reconstruir a imagem da Fifa e deixar o futebol no centro”. Só faltou explicar exatamente de que maneira fará isso.
Nova ordem, antiga política
Gianni Infantino é uma estampa conhecidinha dos amantes do futebol graças aos sorteios para as competições da Uefa como a Eurocopa e a Liga dos Campeões. No posto de secretário-geral da casa, ele costumava ser um gentil anfitrião e conduzir os espetáculos televisionados de sorteio, com as bolinhas determinando que time enfrenta que time por qual chave.
Advogado de carreira na Suíça, Infantino entrou na Uefa em 2000 para trabalhar no gabinete jurídico. Em 2009, se tornou o segundo homem da linha de comando. E agora despontou na Fifa como candidato de ocasião após a exclusão de Platini. E ali teve a agilidade de prospectar votos para além da zona europeia, angariando apoios mesmo entre asiáticos e africanos. Para tanto, usou das mesmas táticas de convencimento ensinadas por João Havelange para Joseph Blatter.
Havelange manteve-se na presidência da Fifa de 1974 a 1998 com uma política expansionista. Entre as promessas eleitorais de Infantino está a ideia de inchar a Copa do Mundo de 32 para 40 times, exatinho como antes fizeram Havelange & Blatter indo de 24 para os atuais 32. Também prometeu dar poder e representatividade para além do campo: o comitê executivo da Fifa a ser ampliado de 24 para 36 cadeiras, recebendo dirigentes de mais países.
Importante: Ifantino disse ainda que irá repassar para cada federação nacional uma ajuda de custo de cinco milhões de dólares a cada quatro anos (de mandato). Uma tática não muito sutil de garantir apoio que, perceba, reproduz em escala planetária o que a CBF faz aqui com as federações estaduais.
No entanto, não é de se desacreditar a tese de que, através de Infantino, a Europa voltará a comandar a pelota. Embora o novo presidente possa manter suas promessas de campanha e pulverizar muita grana e certa impressão de representatividade ao redor do planeta, na prática, o centro de decisões passará pelas federações e pelos clubes europeus, passará pelos interesses das federações e dos clubes europeus.