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Tá todo mundo mal e tudo bem!

O sofrimento pode te dizer para diminuir o ritmo, ajudar a ver o que de fato é importante ou abrir espaço para que você se permita ser cuidado

Autor Nolah Lima

atualizado

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Nesta semana aconteceu aqui em Brasília o lançamento do livro da Jout Jout, uma pessoa iluminada de 25 anos que bombou no YouTube com vídeos carismáticos nos quais fala desde assuntos do dia a dia, como o aplicativo de encontros Tinder, a assuntos mais profundos, como relacionamentos abusivos. Dos vários temas que ela poderia ter abordado, ela escolheu destacar o “Tá todo mundo mal”, título do seu livro e de um dos seus vídeos mais populares. No vídeo, ela fala como, às vezes, aparentamos estar bem, olhamos nossas redes sociais e todos parecem estar de férias, namorando e se exercitando, mas, na verdade, todos temos nossos momentos de dúvida, tristeza e sofrimento, sentados no sofá sem forças para levantar.

 

A real é que muitas vezes temos vergonha de estar mal. Tentamos esconder nossa tristeza, nosso medo, nossa raiva ou angústia de todos, talvez para assim escondê-la de nós mesmos… “Quem vai querer estar perto de alguém triste assim…”, já pensou isso? Eu já. Desde pequenos aprendemos a segurar o choro, a nos “controlar”, a sacudir a poeira e seguir em frente! Afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca! Faca na caveira! Sangue nos olhos! Bola pra frente! Sai dessa! E os jargões comumente usados para nos tirar do fundo do poço não terminam tão cedo…

Entendam, nada contra superar as adversidades e buscar a felicidade. Longe disso. Mas esconder, abafar, colocar nosso sofrimento dentro de uma caixa de pandora até que ele exploda, seja numa briga, seja numa doença, me faz querer agir.

Enquanto “estar mal” for um tabu, algo proibido, algo vergonhoso, vamos seguir uma vida morna, controlada e muitas vezes regada a pílulas que nos ajudam a ter mais energia, mais alegria ou simplesmente forças para sair da cama.

A vergonha vem da sensação de que, estando mal, estamos indo contra os valores da nossa sociedade. Pois eu digo que passou da hora de mudarmos esses valores. Somos seres sensíveis, vulneráveis e isso é lindo! É essa vulnerabilidade que nos entristece e nos desestabiliza, que também faz o nosso coração bater mais rápido diante de uma pessoa amada, que nos faz chorar de rir com uma piada ou de emoção com uma cena de ternura. Ao abafar nossos momentos difíceis estamos nos privando da nossa própria vitalidade.

É normal ficar mal. Para você ter ideia, o ponto inicial da filosofia budista refere-se à constatação da existência do sofrimento e de que todos os seres estão sujeitos a ele. Essa filosofia vem desde o século VI a.C.! Lá na antiguidade, todo mundo estava mal também! E, desde milhares de anos atrás, observamos que, na nossa ânsia de sair desse estado, acabamos fazendo com que ele grude ainda mais forte.

Joseph Goldstein, um grande escritor e professor budista, disse em uma de suas palestras: “A única forma de sair [do sofrimento] é atravessando”. Ao nos encontrarmos numa situação na qual não estivermos bem, é importantíssimo nos darmos espaço para viver essa emoção, atravessar e chegar ao outro lado dela, ao aprendizado, ao insight ou à paz de espírito que ela carrega.

Esse sofrimento pode estar te dizendo para diminuir o ritmo, pode te ajudar a ver o que de fato é importante para você, pode abrir espaço para que você se permita ser cuidado ou dar-lhe forças para mudar algo em sua vida.

Já sentiu um alívio no coração depois de chorar ou os ombros mais leves após falar com alguém sobre algo que lhe chateou? Às vezes não fica clara a mensagem ou o propósito dessa fase, mas do outro lado dela sempre vem um conforto.

Isso significa que vamos voltar com a onda do “#chateado”? Pode ser. Cabe a nós agora encontrar maneiras saudáveis de viver esses momentos. Tem momentos que a vontade é ficar 48h na frente do sofá vendo TV e comendo fast food… Ok. Mas será que aí também não estamos nos anestesiando? O ponto é exatamente viver e assumir para si mesmo a “bad” ou a situação difícil que está passando. Algumas ações podem camuflar esse momento; geralmente essas ações envolvem comida, álcool ou uma nova série do Netflix. Esse prazer momentâneo é ótimo, mas lá no fundo ainda estamos mal e tendo que ignorar isso.

Hoje encontramos, cada vez mais perto de nós, alternativas como yoga, meditação, terapia, coaching e até Muay Thai. Atividades que nos conectam com nosso corpo, atividades que aumentam o nosso autoconhecimento e desatam os nós mais profundos. E como seria conversarmos com alguém próximo? Já parou para pensar que essa pessoa pode estar mal também, doida para falar com alguém, mas com medo de ser julgada?

Então, que tal nos unirmos para construir uma nova visão sobre o “estar mal”? Somente juntos vamos conseguir sentir mais liberdade em viver e expressar os nossos momentos difíceis. Quanto mais mãos dadas, mais leve será a travessia.

Nolah Lima é coach ontológico especializada em processos de aprendizagem transformacional, sócia-fundadora do Melhor de Mim e do ciclo de palestras mensais “As Jornadas do Ser”.

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