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Olimpíadas da redenção: Superação de atletas, remissão de um país

Se tem um sentimento que pode resumir esses Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro é a redenção. Do começo até o fim, a competição foi marcada por histórias de superação e firmamento. A começar pela própria abertura. Quem poderia imaginar que, após o fiasco da cerimônia da Copa do Mundo, em 2014, os brasileiros iriam […]

Autor Fernando Braga

atualizado

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Diego-Hypolito
1 de 1 Diego-Hypolito - Foto: RicardoBufolin/CBG

Se tem um sentimento que pode resumir esses Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro é a redenção. Do começo até o fim, a competição foi marcada por histórias de superação e firmamento. A começar pela própria abertura.

Quem poderia imaginar que, após o fiasco da cerimônia da Copa do Mundo, em 2014, os brasileiros iriam se orgulhar tanto da criatividade tupiniquim refletida nas coreografias de Deborah Colker, no caminhar de Gisele Bündchen, no avião de Santos Dumont? Nem o mais otimista poderia esperar que até mesmo a imprensa internacional — até, então, bastante crítica com relação aos problemas de nosso país — rasgasse elogios à nossa festa. Um momento emocionante que impressionou todo mundo.

Falando em emoção, ver Rafaela Silva conquistar o nosso primeiro ouro lavou a alma de qualquer pessoa que torce por justiça neste mundo. Criada na Cidade de Deus, a judoca enfileirou cinco adversárias, levantou a torcida e calou os críticos que, há quatro anos, a chamaram de “macaca” após sua derrota em Londres.

Antes de disputar a final, Rafaela prometeu aos pais que, caso ganhasse, usaria parte do dinheiro na construção do terraço da casa da família. Às vésperas da competição chegou a carregar sacos de areia e tijolos para ajudar na obra. Como não se alegrar com a conquista de uma atleta que reflete o Brasil que deu certo?

Outro esportista que levou ao pé da letra o jargão “sou brasileiro e não desisto nunca” foi Diego Hypolito. Após decepcionar nos Jogos de 2008 e 2012, o ginasta fez bonito e levou pra casa uma prata com gosto de ouro. “Eu só queria ganhar de mim”, admitiu, em entrevista, após a conquista. Ele sabia que nas duas competições anteriores perdeu para ele mesmo ao cair de cara e de bunda no solo. Dessa vez, diante da torcida, caiu em pé, com o peito estufado e brilho nos olhos. Uma merecida medalha para quem fez tanto pela modalidade no país.

E como não vibrar com Usain Bolt e Michael Phelps, dois gênios do esporte mundial que confirmaram o status de mitos em solo e águas brasileiras. Enquanto uma lesão quase tirou o velocista da seletiva jamaicana dos 100m rasos, o nadador norte-americanos teve que ressurgir do fundo do poço, após enfrentar — nos anos seguintes a Olimpíada de Londres — o vício em bebidas, em jogos e até a depressão. Sorte a nossa em ter a oportunidade de ver lendas vivas nos lugares mais alto do pódio. E o melhor: esbanjando simpatia.

O que dizer, então, de Isaquias Queiroz? Um baiano de 22 anos que aos 4 anos teve uma grave queimadura no corpo, aos 10 perdeu um rim e as 21 sobreviveu a uma capotagem de carro? O nosso Highlander foi o principal nome brasileiro na Rio 2016 e, de joelhos, se tornou o maior medalhista do país em uma mesma edição dos Jogos. Uma história incrível de superação!

A famosa frase “vocês vão ter que me engolir”, dita por Zagallo em 1997, voltou com tudo nessa Olimpíada. Depois de ser massacrado pela fraca atuação nos dois primeiros jogos, o camisa 10 do Brasil usou a máxima criada pelo Velho Lobo para desabafar em rede nacional. Numa crescente impressionante dentro do torneio, a equipe comandada pelo desconhecido treinador Rogério Micale trouxe o último título que faltava ao futebol brasileiro e lavou a alma dos torcedores diante da traumática seleção da Alemanha.

Até o que seria um vergonha internacional teve uma reviravolta de novela. Como um adolescente mimado, o nadador norte-americano Ryan Lochte tentou se safar de uma enrascada usando uma desculpa que expôs ainda mais os nossos problemas no exterior (como se precisássemos de ajuda para isso). Tentou enrolar a polícia e até deu entrevistas na NBC contando sobre um suposto assalto armado. No fim, teve que admitir que foi um babaca mentiroso e que tudo não passou de uma invenção para que a namorada não desconfiasse.

É claro que nem tudo foi perfeito. Muitas medalhas que esperávamos não vieram, passamos muita dificuldade na organização e, mais uma vez, metemos os pés pelas mãos nas obras de infraestrutura. A seleção da Austrália, que sofreu com as acomodações da Vila, que o diga. Porém, olhando pelo lado esportivo, foi, sim, uma festa inesquecível. Digna de filme.

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