O dia em que a distrital Luzia de Paula sambou na cara da sociedade. Veja vídeo
Enquanto o GDF investiga as emendas da deputada, que destinou mais de R$ 1 milhão para festas e shows em Ceilândia, a parlamentar convoca artistas para lotar as galerias e faz “dancinha” em plenário
Editorial
atualizado
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As férias dos distritais finalmente acabaram. Bronzeados, viajados e descansados, eles voltaram à ativa com, vamos ver… 43 dias de vantagem sobre os pobres mortais que pegaram no pesado desde o primeiro dia útil do ano, em 4 de janeiro. Com um delay de mês e meio, era de se esperar que suas excelências retornassem focadas em projetos de interesse dos cidadãos, certo? Errado.
Sabe o que dominou a pauta nesta terça-feira (16/2) pós-carnaval? O desagravo à deputada Luzia de Paula (Rede). A distrital usou R$ 150 mil de suas emendas para construir um estacionamento até a porta da creche que ela própria fundou e sua filha preside. A história foi contada em primeira mão pelo Metrópoles, no dia 15 de dezembro. Luzia destinou outros R$ 850 mil para bancar festas em Ceilândia, seu reduto eleitoral.
A partir das emendas de Luzia, shows de artistas locais receberam cachês para lá de generosos, o que gerou desconfiança. O uso do mercado cultural para driblar desvios de recursos oficiais é manjado pelos políticos, sabido pelos produtores da cidade e investigado pelos promotores de Justiça. Até artistas experimentados, como Zeca Pagodinho, já caíram na malha fina do Ministério Público, que vive às voltas para provar o desmazelo com o uso do dinheiro público em emendas para eventos culturais.
O ano de 2016 já avança nervoso para o seu terceiro mês e a sociedade brasiliense espera de seus representantes na Câmara Legislativa que regulamentem o projeto do Uber, revisem a Lei do Silêncio, tomem partido a respeito da eleição direta de administradores e evoluam nas investigações sobre a máfia do transporte na capital federal.
Mas, no primeiro dia de volta aos trabalhos em plenário, o que tocou os distritais foi o espírito de corpo. Eles subiram à tribuna, gastaram tempo, saliva e a paciência do eleitor para defender a colega Luzia de Paula. Nesta semana, ela foi surpreendida com a abertura de uma investigação do próprio governo, que, por meio de sua Controladoria-Geral, decidiu apurar a legalidade das emendas indicadas pela parlamentar.
Disse o distrital Robério Negreiros (PMDB): “Quando um colega é atacado, toda a instituição é atacada também”. No que Ricardo Vale (PT) se solidarizou: “Eu mesmo já destinei R$ 5 milhões de emendas para a cultura”. Lira (PHS) foi direto ao ponto e disse que “não poderia deixar de prestar minha solidariedade”. E assim, aconchegada, Luzia ficou à vontade para fazer seu desabafo: “Talento e qualidade de arte não podem ter uma medida”. Obviamente, estava se referindo à falta de critérios para precificar os cachês, brecha por onde escorre o dinheiro do povo.
Luzia, aliás, estava tão acolhida pelos deputados e pela claque que ela reuniu nas galerias que dançou ao som de “A vida do viajante”, de Luiz Gonzaga. Dançou, não. Quem dançou foi você. Luzia sambou gostoso na cara da sociedade.
Colaboraram Ary Filgueira e Manoela Alcântara