Marcela Temer é apenas bela, recatada e do lar?

Minha avó é bela, não é recatada, mas é do lar. Teve três filhas, administrava a casa, supervisionava a vida do marido, levava as crianças para a escola e, quando tinha tempo, cuidava do cabelo. Mas a minha avó é muito mais que isso. É uma mulher engraçada, perspicaz, inteligente e generosa. Devora todas as revistas semanais, organiza trabalho sociais, não perde o futebol no domingo e faz questão de passar ensinamentos feministas para as netas.

Pensei muito nela ao ler o perfil da Marcela Temer na “Veja”. Minha avó com certeza não gostaria de ser resumida naqueles três adjetivos. Fiquei me questionando se a mulher do vice-presidente se sentiu confortável com a forma que a representaram. Será que Marcela realmente se considera apenas bela, recatada e do lar?

Não duvido que a advogada acorde todos os dias e realize as mesmas atividades que milhões de outras mães brasileiras: “levar e trazer o filho na escola, cuidar da casa e um pouco dela mesma também”. Mas eu não acredito que a vida de Marcela se resuma a isso.

A reportagem perdeu a oportunidade de contar aos leitores (e Marcela pode ter deixado essa chance escapar) quais são as qualidades, as tristezas, as angústias e os interesses da mulher do vice-presidente. Não mostrou o que ela gosta de ler, que esporte gosta de praticar, o que pensa sobre feminismo, política, criação dos filhos, violência, saúde. Tenho certeza de que a linda moça, que se formou em direito e convive há tanto tempo com políticos e figurões poderosos, poderia opinar sobre a crise vivida pelo país. Mesmo assim, a descreveram como uma boneca sem opinião.

Faltou humanizar Marcela.

Será que ela gostou de jantar com o marido, oito meses atrás, em uma sala reservada cercada de seguranças? Talvez sim. Talvez não. Será que a mãe dedicada não organiza saídas românticas e viagens com a família? Esse papel é só de Temer? Pelo visto, não importa saber esses “detalhes” sobre a vice-primeira-dama. Marcela só precisa ser bonita, cuidar do filho e de preferência não emitir opinião.

Há muitos tons entre o que foi mostrado superficialmente pela revista e quem, de fato, deve ser Marcela Temer. As mulheres não são apenas mães, esposas e profissionais. Elas são a mistura disso tudo mas também pessoas com desejos e aspirações individuais.

Poderia apostar que a jovem de 32 anos frequenta outros lugares além do salão de beleza, de restaurantes caros e de consultórios de dermatologistas. Tenho convicção de que Marcela pensa em muito mais do que os horários escolares de seu filho.

Michel Temer deve mesmo ser um homem de sorte. Mas não pelos motivos que a revista “Veja” listou.