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Governador, o senhor sabe com quem está falando?

O nome da moça, governador, é Lueny Krizânia Brito. Ela esperava, em breve, carregar seu filho nos braços. Mas, por falta de assistência, o seu bebê escorreu pelo ventre e caiu no chão, momentos depois de ela dar entrada no HRC. O senhor pode imaginar a dor dessa mulher?

Autor Editorial

atualizado

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1 de 1 artelilian - Foto: Joelson Miranda/Arte/Metrópoles

O nome da moça, governador, é Lueny Krizânia Brito. Em novembro, ela completará 21 anos. Até lá, era esperado que a jovem carregasse em seus braços o presente mais desejado por uma mulher, seu filho. Mas um infortúnio tirou de Lueny a possibilidade de embalar a criança.

Quem primeiro acalentou o bebê nos braços foi a mãe de Lueny, governador. O senhor deve ter visto. Todo mundo viu. Só que aquele não era um ninar de conforto, mas de desespero. O senhor prestou a atenção no choro daquela mulher? Percebeu o quanto estava rouca, como andava de um lado para o outro com aquele corpo miúdo, envolto numa manta? Reparou em suas roupas sujas de sangue, governador? Edna é o nome dessa avó. E o menino se chamaria Enzo Gabriel.

Mas o bebê não resistiu a uma complicação na gravidez e descolou do ventre materno com cinco meses de gestação. As chances de ele sobreviver seriam mínimas e não é preciso ser um expert no assunto. Mas, se aquela mulher tivesse 1% que fosse de possibilidade de segurar o seu filho vivo nos braços, essa chance zerou quando a moça foi orientada a voltar para casa depois de dar entrada ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC) sentindo fortes dores.

Governador, pouco tempo depois de Lueny ser mandada de volta para a casa, o filho dela despontou de seu ventre e caiu no chão. O senhor pode imaginar o desespero da menina e da mãe dela? Pode ser que o laudo de necropsia confirme que o bebê já estava morto antes de Lueny dar entrada no HRC. Mas se ela tivesse sido acolhida pelo hospital, nós jamais veríamos aquelas cenas filmadas por outras mulheres grávidas, estarrecidas com a situação, que também aguardavam por atendimento.

No íntimo, o senhor pode questionar: mas o que tenho eu a ver com o infortúnio de uma moradora de Águas Lindas de Goiás (Entorno de Brasília) que vem dar sua cota de sobrecarga ao já combalido sistema de saúde da capital federal? Só naquela madrugada de horror para Lueny, Edna e Enzo, 13 crianças nasceram no HRC. A diretora da unidade, Talita Andrade, admitiu que sobram pacientes e faltam profissionais.

Então, governador, tomamos a liberdade de lhe perguntar: o senhor chegou a falar de Lueny para seu colega José Eliton (vice-governador de Goiás)? Ele esteve em Brasília para a reunião de governadores nesta segunda (1°/2), não é isso?

O que mais pode ser tão importante quanto prestar solidariedade àquela família? O que mais pode ser tão humano quanto abraçar a médica do HRC que não teve condições de oferecer o mínimo de dignidade a seus pacientes? O que é mais urgente do que resolver a falta de insumos, de profissionais, de estrutura nos hospitais do DF?

Leonardo Arruda/Metrópoles
Rodrigo Rollemberg (ao centro) participa de encontro político na segunda (1°/2)

 

Governador, a capital federal é a única que recebe um aporte de R$ 12 bilhões do governo federal para manter os salários de servidores da Saúde, da Segurança e da Educação. Aqui, e só aqui, o Ministério Público e a folha do Judiciário local também são bancados pela União. Inevitável supor que temos condições de oferecer serviços públicos mais decentes que os nossos vizinhos, que o Rio de Janeiro e que São Paulo.

Então, governador, se o senhor por acaso não teve tempo de bater um papo com os colegas governadores sobre a Faixa de Gaza que se tornaram os hospitais do DF, sugerimos que o desespero de Edna entre em sua pauta. O desespero dela e de todos os brasilienses que dependem do sistema de saúde pública para sobreviver, sob pena de o governo do senhor também entrar para as estatísticas na condição de um natimorto.

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