Vitória de Trump faz investidores desistirem de países asiáticos
Muitos esperam que a agenda de Trump leve a uma inflação maior, o que forçaria o FED a elevar juros mais rápido e tornar o dólar mais forte
atualizado
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Investidores continuaram a se desfizer de ações, moedas e bônus de economias emergentes da Ásia nesta sexta-feira (11/11), reagindo à eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. A bolsa da Indonésia encerrou o dia em queda de 4%, ao passo que, nas Filipinas, o recuo foi de 2,9%. Paralelamente, a rupia indonésia e o ringgit malaio caíram quase 3% em relação ao dólar, levando bancos centrais dos dois países a emitirem comunicados na tentativa de suavizar os mercados.
Os yields de títulos soberanos de emergentes da região também subiram. O rendimento do bônus de 10 anos da Coreia do sul bateu 1,939% nesta sexta-feira, de 1,821% na ontem. Na Tailândia, o rendimento do título de mesma maturação passou de 2,30% para 2,38%.
Mudanças
Este movimento forçaria uma mudança na dinâmica que tem atuado desde o começo do ano sobre os mercados emergentes, que atraíram bilhões de dólares em investimentos. Por meses, a combinação de juros baixos ou negativos no mundo desenvolvido levou investidores a esmiuçarem outros mercados atrás de retornos mais atraentes. Agora, com a forte alta dos rendimentos dos Treasuries, este movimento perdeu força.
“Juros mais altos nos Estados Unidos naturalmente pioram a atratividade de mercados emergentes”, afirmou Mirza Baig, diretora de câmbio e juros do BNP Paribas em Cingapura. Entre os emergentes, isso significa saída de capitais, depreciação da moeda e juros mais altos.
Após a vitória de Trump na terça-feira, o rendimento dos Treasuries de 10 anos voltou a operar acima de 2,0% pela primeira vez desde o início do ano. Na quarta, eles tiveram o maior avanço diário em três anos.
Mercados emergentes
O movimento, que poderia apressar o Fed na normalização da política monetária, joga contra a perspectiva que empurrava investidores em direção aos mercados emergentes desde o início do ano. “A perspectiva de uma trajetória gradual para o aumento de juros provavelmente não vai acontecer”, disse Mark Baker, gerente de portfólio de mercados emergentes da Standard Life Investments, em Hong Kong. “Acredito que existe uma narrativa que gira em torno do aperto das condições globais de liquidez que pode crescer de importância uma vez mais.”
Neste tipo de ambiente, investidores podem ser levados a repensar investimentos em países dependentes de capital estrangeiro, como a Turquia e a África do Sul, disse Baker.
Nesta sexta, as moedas da Malásia e da Indonésia, onde investidores detém uma fatia grande da dívida do governo, se enfraqueceram fortemente antes de se recuperarem no final do dia
“A liquidez (nos mercados emergentes) está diminuindo, afirmou Cynthia Wong, diretora de trading de mercados emergentes para Ásia e Pacífico do Société Générale.
Choques
Investidores acreditam que os mercados emergentes estão mais resistentes a choques do que estavam durante o chamado “taper tantrum” de 2013, quando preocupações de que o Fed pudesse retirar estímulos desencadearam uma liquidação de posições e saída de capitais em emergentes. Na Índia e na Indonésia, por exemplo, os déficits em conta corrente diminuíram desde então.
Além disso, os movimentos mais bruscos podem se mostrar de curta duração caso investidores, passada a surpresa com o resultado da eleição nos Estados Unidos, comecem a acreditar que oportunidades de compra estão surgindo.
Ainda assim, investidores se mantém cautelosos dada a perspectiva incerta para a direção dos Treasuries. “Caso os rendimentos dos títulos norte-americanos continuem a subir, eles continuarão pressionando os mercados emergentes”, disse Ashley Perrott, diretor de renda fixa para a Ásia do UBS Asset Management in Singapore.
Outro fator que pode mexer com a perspectiva dos emergentes é um recuo do comércio global caso a dura retórica de Trump em favor do protecionismo se concretize. Caso isso aconteça, algumas nações exportadoras, entre elas a China, Índia e Indonésia, podem reduzir juros para fazer frente à desaceleração econômica. Isto, por outro lado, pode acelerar a depreciação da moeda e a saída de capitais.