Bicampeão olímpico e repórteres relatam “abordagem agressiva” da PM
De acordo com o repórter Mashiga Mwara, mesmo após a identificação das credenciais da Olimpíada, um policial fez uma revista nos três repórteres apontando uma pistola
atualizado
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Três jornalistas quenianos que estão no Rio para cobrir a Olimpíada relataram terem sido alvo de “abordagem agressiva” da Polícia Militar. Os repórteres atuam no canal Citizen, um dos principais do Quênia, e deixavam o estádio do Engenhão, na zona norte, quando o taxi onde estavam foi parado por uma viatura. De acordo com o repórter Mashiga Mwara, mesmo após a identificação das credenciais da Olimpíada, um policial fez uma revista nos três repórteres apontando uma pistola.
“Ele foi muito agressivo contra nós. Achamos que era por conta da nossa cor de pele”, disse Mwara à reportagem do Estado de S. Paulo.
Também estava no carro o ex-atleta Haile Gebrselassie. Bicampeão olímpico nos 10 mil metros (Atlanta-1996 e Sydney-2000) e multicampeão na maratona, o etíope atua como comentarista da rede Citizen. Outro que estava no veículo era o radialista Philip Muchiri. Eles tinham acompanhado a premiação do corredor queniano Paul Tanui, medalhista de prata na prova de 10 mil metros no Rio, e retornavam para o apartamento onde estão hospedados, na Tijuca.
Na saída do estádio, após a meia-noite, o grupo pegou um taxi que optou por um atalho na zona norte da cidade, em que o motorista apontava vielas indicando áreas “perigosas” da região. O repórter descreveu a região como “um dos guetos retratados nos clips de hip hop americanos”. Após passar por um motociclista acidentado no meio da via, o taxista acelerou o carro “temendo pela segurança” dos passageiros, de acordo com o relato.
Após o susto, o grupo diz ter avistado a viatura da Polícia Militar com um “suspiro de alívio por acharmos que estaríamos seguros”. Após conversar com o taxista, o policial ordenou que todos descessem do carro. “Um dos oficiais se aproximou, mas antes que eu pudesse chegar perto, ele fez um gesto para que levantasse o meu moletom brandindo uma pistola”, relatou Mwara. “Foi um incidente muito grave, uma experiência angustiante, os policiais acharam que éramos criminosos”, completou.
“Estamos aqui há mais de duas semanas e não testemunhamos qualquer tipo de atividade criminal. Mas chegou o dia em que nos encontramos à mercê da temida força policial militar”, descreveu o jornalista, citando a ampla repercussão negativa da violência no Rio pela imprensa internacional. Mwara citou a revista Forbes, que descreveu a cidade como a “capital sul-americana dos assassinatos”.
O grupo estava sem passaportes, mas mostrou as credenciais de imprensa do Comitê Rio-2016 e o equipamento de vídeo do carro. Ainda assim, os policiais falavam “agressivamente” contra os três repórteres, em português, e exigiram revistar todos os equipamentos e o táxi. O grupo só foi liberado após a insistência do taxista.
“Naquele momento, senti falta da polícia queniana, que geralmente não é a mais cortês, mas pelo menos pode se comunicar em uma linguagem familiar. Ficamos felizes de não ter que passar uma noite na cadeia brasileira, notória pelo tratamento áspero e pela violência entre os presos”, completou.
Procurada, a Polícia Militar do Rio não se posicionou sobre o caso. Já o Comitê Rio-2016 afirmou “não ter conhecimento” sobre o caso “ou qualquer informação sobre uma denúncia formal do acidente”. O comitê disse ainda que está “disposto a ajudar os jornalistas” para formalizar a ocorrência.