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Reinaugurado há quase um ano, Teatro Oficina Perdiz renasce aos poucos

Ainda com a infraestrutura inacabada, a nova sede recebeu a peça “Fahrenheit”, em setembro, e agora “Cicatrizes”. Em maio tem novas estreias

atualizado

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Luciano Sartoryi /Divulgação
Oficina Perdiz João de Ferro
1 de 1 Oficina Perdiz João de Ferro - Foto: Luciano Sartoryi /Divulgação

Em 1969, José Perdiz abriu, na 708/709 Norte, a oficina mecânica que leva seu sobrenome. Seis anos depois, ele cedeu o espaço para ensaios do grupo de teatro do enteado, aluno da Faculdade Dulcina de Moraes. Começava ali a história do teatro que até hoje, 40 anos depois, faz história na cultura brasiliense. Uma história de resistência.

Agora mesmo, o Teatro Oficina Perdiz está em franco processo de renascimento. Uma nova sede, na 710 Norte, foi reinaugurada em junho do ano passado. Com as instalações ainda inacabadas, recebeu em setembro o primeiro espetáculo, “Fahrenheit — Cantos e Contos de João de Ferro, uma Arqueologia Sobre Novas Masculinidades” (foto no alto), de Luciana Martuchelli.

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Elenco de "Bella Ciao", marco do teatro brasiliense, encenado na oficina
Perdiz (de laranja) e artistas da capital (à direita, integrantes d'Os Melhores do Mundo e Luciana Martuchelli)
Cartaz de divulgação do Tertúlia à Luz de Velas, em cartaz desde a antiga sede
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Perdiz em frente à antiga sede, que teve seu age nos anos 1990

Acervo Marcelo Dischinger
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Elenco de "Bella Ciao", marco do teatro brasiliense, encenado na oficina

Acervo Gê Martú
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Perdiz (de laranja) e artistas da capital (à direita, integrantes d'Os Melhores do Mundo e Luciana Martuchelli)

Acervo Marcelo Dischinger
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Cartaz de divulgação do Tertúlia à Luz de Velas, em cartaz desde a antiga sede

Reprodução/Facebook

 

O espaço reabre agora as portas para “Cicatrizes” — em cartaz sábado (9/4) e domingo (10/4) — e para maio está prevista a estreia de “Casamento Instável, Sujeito a Chuvas e Trovoadas”, de Gê Martú, ator cuja história tem estreita relação com o teatro-oficina. Ele integrou, por exemplo, o elenco de “Bella Ciao” (1991), um marco do teatro brasiliense, sob direção de Mangueira Diniz.

A vocação cultural da Oficina Perdiz se consolidou no fim da década de 1980, justamente com a chegada de Diniz (1954-2009) e com as montagens de “Bella Ciao”, “Esperando Godot” e “Diário do Maldito”. Todas encenadas à noite no espaço que, durante o dia, funcionava como oficina mecânica. “Bella Ciao” ficou mais de um e meio em cartaz. “Por meio dela as pessoas me olharam com outros olhos. Me deram status de ator”, recorda Martú..

Todos que passam pelo Teatro do Perdiz têm boas lembranças de lá. Como uma mecânica poderia se transformar em teatro? Antes de cada sessão, o José Perdiz guardava as ferrugens e limpava as arquibancadas. Ele é um mecenas da arte. Lá, fiz ‘Cala Boca Já Morreu’, ‘ARS – As Mil Folhas Peladas dos Poemas’ e dirigi ‘As Encalhadas e o Namorador’, entre outros projetos. Espero que o novo local tenha o mesmo brilho da antiga sede do Perdiz.

Gê Martú, ator e diretor

Dado como morto, o Perdiz ressurge
O auge do Teatro Oficina Perdiz foi no início dos anos 1990, quando o espaço chegou a receber 7,5 mil pessoas, consolidando-se como ponto de referência das artes cênicas brasiliense. Uma década depois, a situação do teatro mudou radicalmente. O debate sobre a legalidade daquele espaço, então em área pública, voltou à pauta do governo local e federal. Em 2009, os bombeiros condenaram a estrutura do local, impossibilitando a apresentação de espetáculos.

A batalha de José Perdiz teve fim em 2015, quando ele e sua família se mudaram para o novo endereço na 710 Norte. A reinauguração, em junho passado, com presença do governador Rodrigo Rollemberg, não garantiu a conclusão das obras (faltavam revestimento acústico e arquibancadas). Mesmo assim, o Teatro Oficina Perdiz insiste em ir em frente.

Fernando Silva de Oliveira/Divulgação
Marcos Pacheco coordena a programação e o projeto Tertúlia à Luz de Velas, que continua na nova sede

 

Luciana Martuchelli, que “pré-inaugurou” a nova sede com “Fahrenheit…”, lembra que Perdiz surgiu para os artistas como um espaço totalmente alternativo. “Era um local onde nós, estudantes, podíamos experimentar. O espaço era um sintoma de que artistas precisam de lugar seu, diante de tantos teatros caros e acesso restrito. Lembro que, certa vez, pintei toda oficina de vermelho e o torno mecânico do José Perdiz tem essa cor até hoje. Toda vez que vou lá, ele me lembra desse episódio (risos)”

Amigo de José Perdiz há anos, o ator e diretor Marcos Pacheco também esteve em “Bella Ciao” e hoje é o responsável pela programação do teatro. Marcos comanda o show cênico-poético-musical “Chorando Pessoa”, em que interpreta obras do escritor português acompanhado pelos músicos Alceu Lacerda, Fernando Meira e Yann Rocha. O recital faz parte do projeto Tertúlia à Luz de Velas, na ativa desde a antiga sede do Perdiz e que volta a ser realizado no novo local.

Stênio Garcia estava em cartaz na cidade com a peça ‘Ricardo III’. Ele, Lucinha Lins, Guilherme Karan e Françoise Forton, entre outros atores do elenco, tinham ouvido falar da nossa interpretação em ‘Bella Ciao’ e fizeram questão de ver o espetáculo. Era 1h da manhã e fizemos uma sessão só para eles. Fomos aplaudidos de pé.

Marcos Pacheco, ator e diretor

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