Projetos de arte e cultura tentam mudar imagem do Setor Comercial Sul
Visto como área de criminalidade, prostituição e tráfico de drogas, local vem sendo revitalizado por ações culturais. Neste sábado (22) tem Bregaween
atualizado
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Pela manhã, o coração comercial de Brasília pulsa com cerca de 200 mil pessoas que por ali passam. Lojas, bancos, becos tomados e praças cheias. À noite, o local deserto ocupa o imaginário do brasiliense como área de criminalidade, prostituição e tráfico de drogas.
No entanto, essa visão do Setor Comercial Sul tende a se modificar. Há pouco menos de um ano, ações de coletivos culturais e da Secretaria de Trabalho do DF ocupam o espaço, levando arte e lazer à área originalmente destinada a prédios comerciais.Desde o fim do ano passado, o local vem recebendo diversas atividades. Neste sábado (22/10), o corredor das Quadras 2 e 3, tomado por lojas de departamentos, farmácias, salões de beleza e restaurantes, cede lugar à Bregaween, festa a fantasia inspirada no Halloween. Realizado pelo Coletivo Labirinto, o evento será animado pela banda Brega & Rosas.
Cinco festas em cinco meses
Nos últimos cinco meses, a produtora composta atualmente pelos jovens Caio Dutra, Phillipe Daher, Rafael Sebba, Camilla Santana, Carol Dutra e Maria Carol já realizou cinco festas no SCS. A primeira foi a Samba da Mutamba, em maio, depois teve a Criolina. Também aconteceram lá a GRAU, a Pequila Convida Felipe Cordeiro e a Invasão, em parceria com o Confronto Sound System.
A gente tenta promover a valorização do espaço e o crescimento compartilhado. Na Samba da Mutamba, com uma parte do lucro a gente fez um varal social para doação de roupas para a população que mora ali nas ruas. Nossa intenção não é expulsá-los, mas compartilhar o espaço e diminuir a violência
Caio Dutra, do Coletivo Labirinto
Para a Bregaween, uma parceria com a Hortare vai presentear o local com a construção de uma horta comunitária. “Chamamos a ação de live plaint, porque o pessoal vai fazer a horta enquanto a festa está acontecendo”, conta Caio. O evento também contará com os DJ Pequi e Murilo, além de um concurso de fantasias, e terá como prêmio um jantar no Restaurante Beco (407 Sul). Os ingressos estão sendo vendidos a R$ 30.
“Todo mundo ganha”
Sob o empenho da Secretaria do Trabalho do DF, ações de ocupação cultural na área também foram desenvolvidas. O projeto Quinta Cultural reuni de 200 a 500 pessoas toda semana. Iniciado em março deste ano, o evento envolve traz músicos autorais da cidade enquanto food trucks formam uma praça de alimentação. O som é de responsabilidade do Kombi Ando, uma iniciativa que disponibiliza palco e equipamentos para a realização de saraus, shows e teatro itinerante.
Thiago Jarjour, secretário adjunto do trabalho, diz que fomentar este projeto também trouxe outros para região, como parceria entre a faculdade de arquitetura da Universidade de Brasília. “Ver as pessoas frequentando, valorizando e se divertindo em um ambiente tão estigmatizado da cidade traz muita satisfação”, diz Thiago.
A Administração de Brasília avalia como positiva essa ocupação. Segundo o gerente de cultura, esporte e lazer, Victor Lizárraga, ações como essa trazem benefícios, pois movimentam a cadeia produtiva da cidade. “Apoiamos todos os eventos organizados e que cumprem as exigências previstas. Todo mundo ganha, porque a gente fomenta a economia criativa, o comércio local, a arte e o lazer”. Uma das primeiras iniciativas promovidas pelo GDF chamou-se Natal Legal e visou retirar ambulantes do trabalho informal e desenvolver feiras.
Menos ocorrências policiais
Sessões de cinema, exposições e workshops também têm sido promovidos por ali. A Casa da Cultura da América Latina (Quadra 4) traz programação frequente de filmes nacionais e internacionais com sessões às 12h e às 15h. O Sesc Presidente Dutra (Quadra 2) promove sessões de cinema para adultos e crianças às 12h. Já o Museu dos Correios (Quadra 4) recebe exposições de artistas mundialmente conhecidos.
Dados da Secretaria de Segurança Pública apontam que, de janeiro a junho deste ano, não houve registros de homicídios nem estupros na área. Em 2015, foram oito assassinatos no mesmo período. As ocorrências por tráfico de drogas diminuíram 42,3% comparando os dois anos. Os números são frutos, além das atividades culturais, do trabalho de iluminação, regulação dos ambulantes, policiamento e sinalização do trânsito.