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O Metrópoles comenta os sambas-enredos cariocas de 2016. Veja o que esperar

Apesar da homogeneização dos sambas, existem trabalhos de destaques, como as músicas da Mangueira e do Salgueiro

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Sergio Luiz/Reprodução
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Quem gosta de Carnaval sabe: há muito tempo os sambas-enredos não são mais como os de antigamente. E não é o caso de saudosismo sem sentido. Considerado o maior Carnaval do mundo, a folia carioca entrou em processo em que mais vale a quantia do patrocínio do que a opinião da comunidade. Sendo assim, não surpreende que os enredos causem pouca comoção e que as letras tragam rimas fracas, dignas de iniciantes.

Ainda assim todos os anos surgem dois ou três sambas que honram o legado deixado por “Aquarela Brasileira” (Império Serrano, 1964); “Festa para um Rei Negro” (Salgueiro, 1971); e “O Amanhã” (União da Ilha, 1978), entre outros. O Metrópoles ouviu os sambas das agremiações cariocas que, neste ano, desfilam no Grupo Especial. Confira as nossas impressões:

Beija-Flor – “Mineirinho Genial! Nova Lima – Cidade Natal. Marquês de Sapucaí – O Poeta Imortal!”
Ultimamente, a escola coleciona mais polêmicas do que sambas-enredos marcantes. No ano passado, a agremiação de Nilópolis levou o título de campeã com a controversa música em homenagem à Guiné-Equatorial, país comandado por um ditador acusado de muitos crimes e apontado como um dos financiadores daquele Carnaval. Enfim, em 2016, ela vem cantando a trajetória de Cândido José de Araújo Viana, mais conhecido como Marquês de Sapucaí. A letra soa informativa, mas pouco melodiosa. O ritmo é marchado demais, característica comuns das escolas nos últimos anos.

Estácio de Sá – “Salve Jorge! O Guerreiro na Fé”
A escola pioneira do Carnaval carioca apostou em um tema que é a cara do Rio. Tem como vantagem a batida um pouco menos acelerada do que os sambas concorrentes. O ponto negativo é a letra “chapa-branca” que mostra São Jorge apenas como um santo católico, deixando o sincretismo de lado e, consequentemente, ignorando as relações do santo com a Umbanda e o Candomblé.

Grande Rio – “Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei
Sempre inexpressiva, a agremiação “escolheu” a cidade de Santos (SP) para homenagear neste ano. O samba cita até Neymar e sua expressão costumeira “Ousadia e Alegria”. Se fizer um desfile minguado, corre o risco de cair para o Grupo da Série A (antigos grupos de Acesso A e B).

Imperatriz Leopoldinense – “É o Amor… Que mexe com minha cabeça e me deixa assim… – Do sonho de um caipira nascem os Filhos do Brasil”
Os primeiros acordes já denunciam que este será um samba-enredo diferente. Com a voz e sanfona de Lucy Alves, a música passeia pelo samba, forró e sertanejo para relembrar a história de Zezé Di Camargo & Luciano, dupla que também inspirou filme. A música e a letra são muito bonitas, mas não deve levantar o público se seguir o mesmo formato do CD. Na Sapucaí, a voz e o ritmo do intérprete oficial, Marquinho Art’Samba dará o tempero que falta nessa mistura.

Mangueira – “Maria Bethânia, a Menina dos Olhos de Oyá”
Um samba que homenageia Maria Bethânia já nasce com cara de campeão. Mas como diria no futebol, o jogo só acaba quando termina. Os desfiles dos anos anteriores da Mangueira deixaram muito a desejar e esse é um ponto delicado para a escola. E há outra questão importante: a música que celebra a vida e obra da baiana não tem a mesma força de “Chico Buarque da Mangueira”, canção emblemática que deu o título de campeã para Verde e Rosa em 1998. É um dos melhores sambas-enredos de 2016, mas pode ser desbancado por outras agremiações, como o Salgueiro.

Mocidade – “O Brasil de La Mancha: Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”
De acordo com a escola, o enredo “é dedicado ao povo Brasileiro, que apesar dos monstros gigantes conserva os sonhos da Mocidade, mantém a esperança de um país melhor…”. A letra piegas perde mais força se lembrarmos que, em 2010, a União da Ilha criou um enredo de temática próxima àquela apresentada pela Mocidade neste ano. Com “Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis”, a Ilha mostrou um desfile de alegorias lindas, criadas por Rosa Magalhães, e de um samba com refrão inesquecível. Será difícil superá-lo.

Portela – “No voo da Águia, uma viagem sem fim”
Há mais de 30 anos sem ganhar um título, a Azul e Branca de Oswaldo Cruz pode ficar mais um ano sem o primeiro lugar. O enredo, que propõe uma viagem sem fim que atravessa a história da humanidade, acabou ficando genérico, sem pontuar episódios importantes da história, o que daria força para a letra. O refrão é bom, mas insuficiente se comprado ao de 2015, que cantou aos quatro cantos: “Sou carioca, sou de Madureira/ A tabajara levanta poeira…”.

Salgueiro – “A Ópera do Malandro”
É, sem dúvidas, um dos melhores sambas-enredos de 2016. Livremente inspirado na obra “A Ópera do Malandro” de Chico Buarque de Hollanda, o enredo também promete alegorias belíssimas, como foi possível ver no desfile técnico do dia 29 de janeiro. Além do uso de pontos de candomblé e de umbanda na música (que nos remete aos sambas-enredos da década de 1970), a agremiação acertou no tratamento respeitoso às figuras dos malandros e das pombas-giras.

São Clemente – “Mais de mil palhaços no salão”
Faz parte dos grupo de escolas que precisam tomar cuidado para não serem rebaixadas. Enredo, letra e música têm pouca força para levantar a Sapucaí.

União da Ilha – será “Olímpico por natureza. Todo mundo se encontra no Rio”
Seria – quase – impossível passar por 2016 sem um enredo que remetesse ao cenário das Olimpíadas no Rio de Janeiro. A música – escrita por oito pessoas! – não impressiona e deixa a desejar.

Unidos da Tijuca – “Semeando Sorriso, a Tijuca festeja o solo sagrado”
Outro enredo genérico de um tema batido. Para garantir uma boa colocação, a escola vai precisar da aceitação do refrão por parte do público e de alegorias impecáveis.

Vila Isabel – “Memórias de Pai Arraia. Um sonho pernambucano, um legado brasileiro”
Amigos de outros Carnavais, Martinho, André Diniz, Arlindo Cruz, Tunico da Vila e Leonel fizeram, em 2013, o lindo “A Vila canta o Brasil celeiro do mundo – Água no feijão que chegou mais um…”. Agora, (com Mart’nália no lugar de Tunico), os compositores investiram em mais parceria. Porém, é preciso admitir que sem o gás daquela de três anos atrás. Música e letra são boas, mas podiam ser melhores.

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