“Discobiografia Legionária” traz histórias vividas pela Legião Urbana
O livro traça o comportamento artístico de Renato Russo e seus músicos – sobretudo Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá – durante as gravações
atualizado
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As biografias convencionais costumam explicar a vida de um artista pela obra que ele deixa. O pouco explorado caminho contrário, se ater à obra para chegar à vida, pode, contudo, trazer histórias reveladoras e saborosas que muitas vezes não passam pela apuração centrada no palco, na família, nos amigos. É o caso da “Discobiografia Legionária” (Editora Leya; R$ 39)
A jornalista e pesquisadora fluminense Chris Fuscaldo foi aos estúdios falar com músicos, produtores, arranjadores e compositores para fazer a obra. O livro traça o comportamento artístico de Renato Russo e seus músicos – sobretudo Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá – durante a gravação de seus oito discos de carreira e da feitura dos álbuns póstumos da Legião Urbana.
Aos que acompanham as publicações sobre a banda, esse trabalho é o que parece: um filho bem nutrido dos textos originais, com novas apurações e entrevistas, que Chris escreveu para a gravadora EMI em 2010 para o relançamento em CD da discografia completa da banda brasiliense. O livro traz agora aqueles textos corrigidos e mais histórias que abrangem a discografia pós-morte de Renato Russo, em 11 de outubro de 1996.
“Não sei se poderia fazer esse livro sobre outras bandas”, diz Chris, referindo-se à riqueza de histórias que uma sessão de gravação pode trazer quando a banda em questão era a Legião Urbana. “Eles tinham uma vida à parte quando estavam em uma sala de estúdio. Poderiam passar dias, meses trabalhando em uma mesma música. Era uma história deles com eles mesmos e com outros profissionais.” Quando músicos entram em estúdio e “matam” uma gravação em questão de horas, a única história a ser contada é a do virtuosismo desses artistas. Para Chris, transbordaram os dilemas, as escolhas, as dúvidas, as brigas e o companheirismo que poderiam se alternar durante o registro de apenas uma canção“O Renato era muito planejado. Chegava para uma gravação trazendo seu caderninho, cheio de anotações.” Apesar da pretensa centralização, a atitude do líder trazia um traço de personalidade positiva. “Ele era muito generoso, um compartilhador.
Queria que todos colaborassem com as criações.” Os músicos seguiam em estúdio mesmo durante o processo de mixagem, uma etapa pós-gravação que, em geral, dispensa o artista de sua presença em estúdio. “Eles jogavam vôlei em uma quadra que montavam no estúdio. Claro que também havia brigas, crises de criatividade com as quais Renato não sabia como lidar, momentos como o que Renato dá uma saída do estúdio dizendo que vai tomar um café, acaba bebendo (álcool) e ficando pela rua”, conta Chris
O álcool entrou com força na vida de Renato, e ele falou sobre isso em momentos como na canção Vinte e Nove, do disco O Descobrimento do Brasil, de 1993. Assim conta Chris: “Entre 1993 e 1995, Renato estava extraordinariamente inspirado.
Queria viver cada minuto como se fosse o último. Compôs como nunca, numa velocidade nova para quem acompanhava sua trajetória e via suas dificuldades toda vez que pintava um disco novo para produzir”. Mas o alcoolismo é uma questão revelada pelo próprio artista na canção. “Me embriaguei morrendo 29 vezes.” Ela lembra também de Só por Hoje, que remete ao famoso lema dos Alcoólicos Anônimos, frequentado por Renato, como lembra a autora.
Chris Fuscaldo quer agora se dedicar à finalização da biografia de Zé Ramalho. A previsão de lançamento é o primeiro semestre de 2017.