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“Com mulheres é mais agressivo”, diz jornalista em livro sobre ódio na web

Em A Máquina do Ódio, Patrícia Campos Mello mostra como funcionam os ataques à honra nas redes sociais

atualizado

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Marcos Vilas Boas/Divulgação
Patrícia Campos Mello
1 de 1 Patrícia Campos Mello - Foto: Marcos Vilas Boas/Divulgação

Desde as eleições presidenciais de 2018, que tiveram Jair Bolsonaro como vitorioso, alguns temas ligados à comunicação entraram no debate público: fake news, disparos de mensagens em massa e assassinatos de reputação. Os três assuntos estão interligados no livro A Máquina do Ódio, da jornalista Patrícia Campos Mello.

Em um texto que mescla os bastidores da reportagem, o relato pessoal e as informações coletadas, Patrícia aprofunda os temas que trabalhou ainda na campanha eleitoral. A repórter, em 2018, denunciou que empresários compraram o disparo de massa de mensagens com notícias falsas, na maior parte das vezes, em benefício do então candidato Jair Bolsonaro.

A Máquina do Ódio mostra, porém, uma aparente incoerência da cronologia dos fatos. Após as denúncias demonstradas na reportagem, o esperado era que Bolsonaro precisasse dar explicações. No entanto, quem se viu no meio do furacão foi Patrícia Campos Mello.

A Máquina do Ódio, de Patrícia Campos Mello
A Máquina do Ódio, de Patrícia Campos Mello

A jornalista foi acusada de oferecer sexo em troca de informações contra o presidente – o que prontamente desmentiu. “Ela queria dar o furo contra mim”, falou Bolsonaro, em vídeo replicado milhares de vezes por apoiadores do chefe do Executivo. Isso sem falar nas centenas de memes e xingamentos.

“Comecei a escrever o livro em maio de 2019. A ideia era comparar o uso do disparo em massa de mensagens na manipulação da opinião pública nos EUA, no Brasil e na Índia”, conta Patrícia, em entrevista ao Metrópoles. “Aí, em fevereiro, rolou toda aquela situação, onde virei alvo dos ataques. E optei por abordar esse outro lado da política populista das redes sociais, que é descredibilizar o jornalista”, completa.

Em um dos trechos do livro, a jornalista conta que seu filho, aos 7 anos, viu um vídeo no qual era ofendida pelo então candidato Alexandre Frota, que a chamava de “vagabunda sem vergonha”.

“É muito louco como a gente [jornalistas] virou alvo. Meu filho achou aquele vídeo, foi ruim, mas imagina se ele acha os memes”, pondera Patrícia. “Com as mulheres é mais agressivo, bebe de um preconceito que está enraizado, na misoginia. Não criticam as matérias, nos chamam de velhas, gordas, feias. Não são críticas, são ofensas”, desabafa.

Fake news e investigações

Depois que Patrícia denunciou a compra de disparos em massa, as tentativas de combate de fake news e assassinatos de reputação no Brasil evoluíram para ações mais práticas. No Congresso Nacional, corre a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o tema. O Supremo Tribunal Federal conduz dois inquéritos, que já resultaram na exclusão de contas de usuários de redes sociais e na quebra de sigilo de parlamentares governistas.

“Desde o ano passado, acredito, a sociedade como um todo foi se dando conta de que essa máquina de ódio estava corroendo a democracia e distorcendo o debate público. Agora, com a pandemia, essa questão ganhou mais força, pois uma mentira pode custar vidas”, argumenta.

Outra ponto é a reação das plataformas, que têm, mesmo com ressalvas, acatado as decisões judicais e tirado do ar conteúdos falsos. Além, é claro, de classificarem conteúdos não verdadeiros ou sem fontes.

No Legislativo brasileiro, há um projeto de lei que pretende regular a questão. Patrícia, porém, alerta que a sociedade precisa ficar vigilante.

“A gente tem que ver como vai ser esse projeto de lei. É necessário ter alguma regulamentação, mas não podemos criminalizar jornalistas e ‘as tias do zap’. A questão é ir atrás de quem financia essas ações”, conclui Patrícia.

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