Entre a tecnologia e a natureza, mostra “ComCiência” espalha criaturas bizarras pelo CCBB
Em cartaz até segunda (4/4), exibição reúne criaturas feitas com silicone, fibra de vidro, pele e cabelo pela artista australiana Patricia Piccinini
atualizado
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Um mundo digno dos filmes de fantasia e ficção científica ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil a partir desta quinta (21/1). Misturando um realismo cristalino com formas bizarras – mas reconhecíveis –, a australiana Patricia Piccinini reúne esculturas de criaturas estranhas na mostra “ComCiência”. A exposição fica em cartaz até segunda (4/4).
Nascida em Serra Leoa, mas radicada na Austrália desde criança, Patricia se utiliza de um contexto propício para a criação das obras, que se estendem para o vídeo e para a fotografia. Afinal, há animais que só existem por lá, como canguru, coala e ornitorrinco. Para o curador da exibição, Marcello Dantas, a representação da natureza perpassa os bichos geneticamente modificados da artista.
“Lá, todos esses seres só são estranhos para quem é de fora”, analisa. “ComCiência” passou por São Paulo entre outubro e janeiro, arregimentando mais de 250 mil visitantes. O organizador enxerga impressões diversas que explicam a curiosidade das pessoas pelas espécies inventadas pela autora.
“Num primeiro momento, há uma fascinação pelo detalhamento realista das esculturas. São em escala real, com cabelo e pele”, descreve. Ao longo da visita, o espectador pode se dividir entre o interesse a rejeição. “Os animais têm humanidade, paz. Depois você começa a aceitá-los, a trazê-los para a nossa esfera de pensamento”.
Ética e espetáculo
Entre o belo e o feio, uma dualidade constante na história da arte, Patricia desbrava os limites do conceito de empatia. “Ela desafia o que é aceitável para cada um de nós”, avalia Dantas. “Hoje, a gente considera aceitável comer um chester, um animal inventado, no Natal. A natureza só criou três espécies de cães. Todos os outros foram feitos pelo homem”, aponta.
Um dos subtextos de “ComCiência” é a problematização da ética pessoal, que nem sempre acompanha o consenso geral. “O grande parâmetro da evolução da ciência é jurídico e legal. A gente já podia ter clones andando pela rua, carros se movimentando sozinhos e outras pesquisas sobre células-tronco. A ciência norteia os caminhos da sociedade”, aponta.
O recurso para fisgar a atenção das pessoas vem do realismo exibido pelas obras. Lidando com materiais como fibra de vidro e silicone, Patricia cria uma experiência de superfície deslumbrante e algo grotesca. “Parece um freak show, um museu de cera, uma coisa meio lúdica”, explica Dantas. “As pessoas vão pelo espetáculo e saem refletindo sobre até onde podemos ir”.
“ComCiência”
Até 4 de abril, no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Esportivos Sul, Trecho 2, Lote 22; 3108-7600). Grátis. Visitação de quarta a segunda, das 9h às 21h. Classificação indicativa livre.