“Spotlight” surpreende e vence Oscar de melhor filme. “O Regresso” leva direção e ator, mas “Mad Max” domina com seis troféus
Após cinco indicações, Leonardo DiCaprio finalmente faturou o prêmio. “Spotlight” começou a noite ganhando roteiro original e desbancou “O Regresso” e “Mad Max” no troféu principal
atualizado
Compartilhar notícia
Uma das corridas mais disputadas da história do Oscar terminou de forma surpreendente e irônica na noite deste domingo (28/2). “Spotlight – Segredos Revelados” abriu a cerimônia vencendo o troféu de roteiro original e passou o restante da festa sem levar mais nada. Até que, na abertura do envelope de melhor filme, o drama investigativo sobre pedofilia na Igreja Católica reapareceu, superando os principais concorrentes — “O Regresso” (3 prêmios), “Mad Max – Estrada da Fúria” (6) e “A Grande Aposta” (1).
Um discurso de tonalidade política, recorrente sobretudo nas piadas do mestre de cerimônia Chris Rock, se fez notar na fala de um dos produtores do longa. “Esse filme deu voz aos sobreviventes e esse Oscar amplifica essa voz. Esperamos que se torne um coro que possa ressoar até o Vaticano”, celebrou. “Não estaríamos aqui sem os esforços heroicos dos nossos repórteres”, disse um outro representante do drama, valorizando a importância do jornalismo investigativo.
Após cinco indicações e duas décadas de flertes com a estatueta dourada, Leonardo DiCaprio pôde finalmente segurar o primeiro Oscar da carreira — e frustrar os criadores de memes nas redes sociais. Ele venceu pela sofrida atuação em “O Regresso”, em que batalha pela vida após ser traído por um colega de expedição e quase ser devorado por um urso.
“Inárritu (diretor), você tem forjado novos caminhos na história nesses últimos anos. Obrigado por criar uma experiência transcendental. ‘O Regresso’ teve a ver com o relacionamento do homem com a natureza. 2015 foi o ano mais difícil. Nós precisamos que o mundo coletivamente comece a trabalhar e apoiar líderes que falam em nome da humanidade e das comunidades nativas. Não vamos ignorar o planeta”, discursou.
O cineasta, que no discurso abordou questões como migração e raça, repetiu o feito alcançado só duas vezes na história da estatueta, quando John Ford (1941 e 42) e Joseph L. Mankiewicz (50 e 51) venceram o prêmio da categoria por dois anos seguidos. Outro recorde foi cravado pelo também diretor de fotografia mexicano Emmanuel Lubezki: terceiro Oscar em três anos consecutivos — “Gravidade”, “Birdman” e “O Regresso”.
Por não ter levado nenhum dos prêmios principais, “Mad Max — Estrada da Fúria” acabou um tanto ofuscado, mesmo dominando a cerimônia com seis troféus, todos em categorias técnicas: montagem, design de produção, maquiagem e cabelo, figurino, edição de som e mixagem de som.
Em melhor atriz, confirmou-se o favoritismo de Brie Larson (“O Quarto de Jack“). Antes conhecida pelo seriado “United States of Tara” e sensações indies como “Temporário 12”, Brie faturou a estatueta ao interpretar uma mãe em cativeiro em doméstico com seu filho de cinco anos.
#Oscarssowhite e deboche ao boicote de artistas negros
A enorme repercussão em torno do #Oscarssowhite, uma referência à falta de diversidade racial no Oscar, foi tratada em termos ambíguos, entre o deboche e o escárnio, pelo cerimonialista Chris Rock. Apresentador do Oscar pela segunda vez na carreira — a primeira foi em 2005 –, o comediante abriu a noite tirando sarro da polêmica. “Conhecida como a premiação para pessoas brancas”, brincou.
“Esse Oscar está muito louco por causa dessa controvérsia”, completou. O ator disse que, no passado, havia o mesmo problema e ninguém protestou. “Tínhamos coisas verdadeiras pelas quais protestar na época”, argumentou, lembrando dos rebeldes anos 60.
“No ‘in memoriam’, deviam mostrar os negros mortos por policiais”, polemizou, em tom mais crítico. O discurso inicial tentou acalmar os ânimos em torno do racismo em Hollywood, arrancando algumas risadas e ondas tímidas de aplausos. Ao longo da premiação, clipes satirizaram alguns dos indicados ao Oscar, com atores negros no lugar dos papéis principais para atacar a supremacia branca na premiação.
Nem Rocky, o personagem clássico de Sylvester Stallone (“Creed — Nascido para Lutar“), que perdeu o Oscar de ator coadjuvante para Mark Rylance (“Ponte dos Espiões“), foi perdoado. “Assim é Hollywood. Mas as coisas estão mudando. Agora temos um Rocky negro (“Creed — Nascido para Lutar”). O filme acontece num mundo em que os brancos são tão bons quanto os negros. É uma ficção científica”, comparou.
Chris Rock, apesar das constantes piadas sobre “os filmes dos brancos”, também brincou com o fato de que vários importantes artistas negros, como Spike Lee e Will Smith, resolveram boicotar a premiação. Em resumo: uma performance morde-e-assopra, talvez preocupada demais em atacar a polêmica por meio de tiradas irônicas em excesso.
Coadjuvantes: derrota de Stallone
Disputando o Oscar com a veterana Kate Winslet, que concorria por “Steve Jobs“, Alicia Vikander confirmou o favoritismo que vinha ganhando nas últimas semanas e levou a estatueta de melhor atriz coadjuvante por “A Garota Dinamarquesa“. “Eddie (Redmayne, protagonista), obrigado por ser o meu melhor parceiro”, disse Alicia, vista em 2015 em outros filmes de peso, como a ficção científica “Ex Machina” e o filme de espiões “O Agente da U.N.C.L.E”.
Considerado favorito para ganhar o primeiro Oscar da carreira, Sylvester Stallone (“Creed — Nascido para Lutar”) viu o inglês Mark Rylance ganhar o troféu de ator coadjuvante por “Ponte dos Espiões”.
Não deu para o Brasil (de novo)
Representante do Brasil na cerimônia, a animação “O Menino e o Mundo” foi superada pela favorita “Divertida Mente”, dos estúdios Disney/Pixar. Um dos diretores do longa, Pete Docter falou sobre o filme. “Você pode sofrer na escola. Mas crescer, se tornar um desenhista, animador e transformar a vida das pessoas”. O desenho também foi indicado em roteiro original, mas perdeu para “Spotlight”.
A primeira grande surpresa da noite foi em efeitos visuais. Apesar do domínio de “Mad Max – Estrada da Fúria”, “Ex Machina” foi premiado pela Academia. O filme sequer estreou nos cinemas brasileiros e foi lançado por aqui direto em DVD e em serviços de streaming, como Net Now e Telecine Play.
Filme estrangeiro: consagração de “Filho de Saul”
Como esperado, o longa húngaro “Filho de Saul” levou o prêmio pelo retrato particular dos horrores do Holocausto na Segunda Guerra Mundial. O diretor Lászlo Némes lembrou de um dos “momentos mais sombrios da humanidade”. “Há sempre uma voz que nos permite permanecer verdadeiros seres humanos”, completou o cineasta.
In memoriam: ausências imperdoáveis
Num dos momentos mais emotivos da cerimônia, o clipe In Memoriam lembrou artistas de Hollywood e do cinema mundial que morreram ao longo do último ano. Dave Grohl, da banda Foo Fighters, tocou violão no palco enquanto vários nomes importantes apareceram no telão: Wes Craven, Christopher Lee, Chantal Akerman, Maureen O’Hara, Omar Sharif, Alan Rickman, Leonard Nimoy, Ettore Scola e David Bowie, entre outros atores, cineastas e talentos da indústria.
Várias ausências foram sentidas no clipe, como o cineasta francês Jacques Rivette, o ator Abe Vigoda (“O Poderoso Chefão”), o diretor português Manoel de Oliveira e o roteirista D.M. Marshman Jr (“Crepúsculo dos Deuses”).
Sam Smith celebra a comunidade lésbica e gay
Como costuma acontecer no Oscar de canção, nem todas foram apresentadas ao vivo na cerimônia. Somente três ganharam interpretação na noite deste domingo. Vencedora do Globo de Ouro, a música “Writing’s On the Wall”, tema de “007 Contra Spectre” cantado por Sam Smith, levou o troféu. “Quero dedicar esse troféu à comunidade de lésbicas e gays. Estou aqui esta noite como um homem gay orgulhoso. E espero que possamos todos nos unir um dia”, discursou.
Veja a lista completa dos vencedores do Oscar 2016:
Melhor filme
“Brooklyn”
“A Grande Aposta”
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“Ponte dos Espiões”
“O Quarto de Jack”
“O Regresso”
“Spotlight – Segredos Revelados”
Melhor direção
Adam McKay (“A Grande Aposta”)
Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”)
George Miller (“Mad Max – Estrada da Fúria”)
Lenny Abrahamson (“O Quarto de Jack”)
Tom McCarthy (“Spotlight – Segredos Revelados”)
Melhor atriz
Brie Larson (“O Quarto de Jack”)
Cate Blanchett (“Carol”)
Charlotte Rampling (“45 Anos”)
Jennifer Lawrence (“Joy – O Nome do Sucesso”)
Saoirse Ronan (“Brooklyn”)
Melhor ator
Bryan Cranston (“Trumbo”)
Eddie Redmayne (“A Garota Dinamarquesa”)
Leonardo DiCaprio (“O Regresso”)
Matt Damon (“Perdido em Marte”)
Michael Fassbender (“Steve Jobs”)
Melhor atriz coadjuvante
Alicia Vikander (“A Garota Dinamarquesa”)
Jennifer Jason Leigh (“Os Oito Odiados”)
Kate Winslet (“Steve Jobs”)
Rachel McAdams (“Spotlight – Segredos Revelados”)
Rooney Mara (“Carol”)
Melhor ator coadjuvante
Christian Bale (“A Grande Aposta”)
Mark Ruffalo (“Spotlight – Segredos Revelados”)
Mark Rylance (“Ponte dos Espiões”)
Sylvester Stallone (“Creed – Nascido para Lutar”)
Tom Hardy (“O Regresso”)
Melhor roteiro adaptado
“Brooklyn” (Nick Hornby)
“Carol” (Phyllis Nagy)
“A Grande Aposta” (Charles Randolph e Adam McKay)
“Perdido em Marte” (Drew Goddard)
“O Quarto de Jack” (Emma Donoghue)
Melhor roteiro original
“Divertida Mente” (Pete Docter, Meg LeFauve e Josh Cooley)
“Ex Machina” (Alex Garland)
“Ponte dos Espiões” (Matt Charman, Ethan Coen e Joel Coen)
“Spotlight – Segredos Revelados” (Josh Singer e Tom McCarthy)
“Straight Outta Compton – A História do N.W.A.” (Jonathan Herman e Andrea Berloff)
Melhor montagem
“A Grande Aposta”
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“O Regresso”
“Spotlight – Segredos Revelados”
“Star Wars – O Despertar da Força”
Melhor trilha sonora
“Carol” (Carter Burwell)
“Os Oito Odiados” (Ennio Morricone)
“Ponte dos Espiões” (Thomas Newman)
“Sicario – Terra de Ninguém” (Jóhann Jóhannsson)
“Star Wars – O Despertar da Força” (John Williams)
Melhor animação
“Anomalisa”
“Divertida Mente”
“As Memórias de Marnie”
“O Menino e o Mundo”
“Shaun, o Carneiro”
Melhor filme estrangeiro
“O Abraço da Serpente” (Colômbia)
“Filho de Saul” (Hungria)
“Cinco Graças” (França)
“O Lobo do Deserto” (Jordânia)
“A War” (Dinamarca)
Melhor documentário
“Amy”
“Cartel Land”
“O Peso do Silêncio”
“Winter on Fire – Ukraine’s Fight for Freedom”
“What Happened, Miss Simone?”
Melhores efeitos visuais
“Ex Machina”
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“O Regresso”
“Star Wars – O Despertar da Força”
Melhor fotografia
“Carol” (Ed Lachman)
“Mad Max – A Estrada da Fúria” (John Seale)
“Os Oito Odiados” (Robert Richardson)
“O Regresso” (Emmanuel Lubezki)
“Sicario – Terra de Ninguém” (Roger Deakins)
Melhor design de produção
“A Garota Dinamarquesa”
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“Ponte dos Espiões”
“O Regresso”
Melhor figurino
“Carol”
“Cinderella”
“A Garota Dinamarquesa”
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“O Regresso”
Melhor maquiagem e penteado
“The 100-Year-Old Man Who Climbed Out the Window and Disappeared”
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“O Regresso”
Melhor canção original
“Earned It” (“Cinquenta Tons de Cinza”)
“Manta Ray” (“Racing Extinction”)
“Simple Song #3” (“Juventude”)
“Til It Happens to You” (“The Hunting Ground”)
“Writing’s On the Wall” (“007 Contra Spectre”)
Melhor mixagem de som
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“Ponte dos Espiões”
“O Regresso”
“Star Wars – O Despertar da Força”
Melhor edição de som
“Mad Max – Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“O Regresso”
“Sicario – Terra de Ninguém”
“Star Wars – O Despertar da Força”
Melhor curta de ficção
“Ave Maria”
“Day One”
“Everything Will Be Okay (Alles Wird Gut)”
“Shok”
“Stutterer”
Melhor curta de documentário
“Body Team 12”
“Chau, Beyond the Lines”
“Claude Lanzmann – Spectres of the Shoah”
“A Girl in the River – The Price of Forgiveness”
“Last Day of Freedom”
Melhor curta de animação
“Bear Story”
“Prologue”
“Sanjay’s Super Team”
“We Can’t Live Without Cosmos”
“World of Tomorrow”
Veja como foi a cobertura ao vivo: