“Prova de Coragem” fecha a mostra competitiva com drama insosso
A última sessão do Festival de Brasília também exibiu nesta segunda (21/9) os curtas “O Sinaleiro” e o “O Corpo”
atualizado
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Confira as críticas dos filmes exibidos na segunda (21/9), sexta e última noite competitiva do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Os vencedores serão divulgados na terça (22/9). Acompanhe flashes da última noite do evento em nosso site, a partir das 20h30.
“Prova de Coragem” (RS, 90min), de Roberto Gervitz
Ainda nos créditos iniciais, a vinheta da Globo Filmes prepara o terreno para o que se verá nos 90 minutos seguintes: um draminha de casal burguês tão mal encenado quanto as telenovelas do canal. A trama flagra os gaúchos Adri (Mariana Ximenes) e Hermano (Armando Babaioff). Ela é uma artista plástica a poucos meses de uma importante exposição. Ele, um médico amante de escaladas de montanhas perigosas.
O esperado conflito surge quando Adri anuncia que está grávida. Com medo de perder sua liberdade aventureira, Hermano também divulga uma novidade: vai para a Terra do Fogo com um amigo e corre risco de não voltar para ver o filho nascer. Gervitz tenta evidenciar as rusgas por meio de cenas um tanto canhestras, num realismo de poucos recursos dramatúrgicos.
Eles estão juntos há anos, mas se tratam como estranhos que dividem o mesmo teto. A rispidez é óbvia a ponto de, após mais uma discussão, Adri tirar a roupa, ficar de lingerie e arremessar as peças no marido. Até as sequências de escalada patinam, com planos fora de foco para enfatizar a vertigem de Hermano. O falso sotaque gaúcho, visivelmente forçado pela abundância de bahs, tchês e tus, também não colabora.
O atalho psicologizante do roteiro dá golpes ainda mais baixos. Enquanto a figura feminina é filmada como egoísta, já que a mulher não para de trabalhar mesmo durante uma gestação delicada, ao homem é dado o alívio de flashbacks que remontam a, claro, um episódio traumático da infância.
Ao topar com um amor da adolescência, memórias do passado reativam o sentimento de culpa de Hermano por uma tragédia envolvendo um amigo. Na tentativa de dar uma razão à crise de casal, as fantasias adolescentes de Hermano soam estranhamente mais importantes que os sonhos artísticos de Adri. “Prova de Coragem” já nasceu datado.
Avaliação: Ruim
Os curtas da noite
“O Sinaleiro” (SP, 15min), de Daniel Augusto
Ao adaptar o curta de Charles Dickens, o curta tenta valorizar o tempo inteiro seus valores de produção: trilha sonora ruidosa, objetos de cena, trilhos de uma estação ferroviária sombria e a solidão de um velho homem por meio de frequentes planos mostrando uma goteira, um vaso sanitário e larvas num pote.
Essa narrativa cíclica, cheia de marcações visuais e sem diálogos, muito tem a exibir, mas se desmonta justamente pela frustrante falta de mistério. Se a sinopse sugere suspense, a superfície é de um thriller que se vale do alarde para convencer. É um mero confronto homem x máquina que, depois de tanto mostrar, termina num traiçoeiro final em aberto.
Avaliação: Ruim
“O Corpo” (RS, 16min), de Lucas Cassales
Uma certa tendência do cinema contemporâneo frequentador de festivais aponta para retratos secos e mórbidos da depravação humana. Leia-se: Michael Haneke, suas crias na Grécia, como Yorgos Lanthimos, e alhures. “O Corpo” filia-se à essa estética ao enquadrar, entre planos fúnebres aqui e ali, um garoto a matar uma galinha. Nas suas andanças pela mata, ele encontra uma garota caída, ainda respirando.
Esse cinema baseado na (suposta) frontalidade de suas cenas violentas também costuma comentar a perversidade da raça por meio do sexo. Em “O Corpo”, um galpão onde as cabras dormem serve de cenário para que o pai do garoto abuse sexualmente da menina achada na floresta. A mãe ajuda o marido, segurando os braços da vítima. Pelas frestas das paredes de madeira, o garoto vê tudo e é encarado de volta pela forasteira. Haja choque.
Avaliação: Ruim