No filme “Jauja”, o faroeste encontra o absurdo
Em cartaz no Cine Brasília, novo longa do argentino Lisandro Alonso acompanha a jornada de um militar (Viggo Mortensen) em busca da filha
atualizado
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Um grande mérito do cinema é nos levar para lugares completamente desconhecidos, em que realismo, história e fábula se confundem numa mesma imagem. A tela, por fim, nos carrega para dentro dela própria, em enigmas que começam e se encerram ali mesmo. “Jauja”, um dos mais comentados filmes recentes do circuito de arte, constrói uma narrativa do absurdo a partir da mítica tradição do faroeste.
As fronteiras geográficas e temporais da civilização humana são testadas no longa do argentino Lisandro Alonso. Viggo Mortensen, cujo rosto é tão associado ao Aragorn de “O Senhor dos Anéis”, interpreta o militar dinamarquês Gunnar Dinesen. Ele acaba de se mudar para a Argentina com a filha única, Ingeborg (Viilbjørk Malling Agger).
Western do absurdo
A estranheza diante da nova língua e da terra, tomada por pampas que cortam o horizonte, ganha um contorno de faroeste quando a jovem foge com seu novo namorado. Apesar da ambientação situada no século 19, “Jauja” evoca a busca pela donzela cristalizada em “Rastros de Ódio” (1956), o canônico western de John Ford, por meio de outros atributos: um misto de ficção histórica com trama existencial, atravessado pelo constante flerte com a fábula.
“Jauja” parece dobrar os conceitos de identidade nacional até mesmo em seus créditos – o longa é resultado de uma coprodução que envolveu oito países, incluindo o Brasil.
Lisandro Alonso já assinou trabalhos mais potentes, como a obra-prima “A Liberdade” (2001), um título tão misterioso que chega a esvaziar a simples definição de filme híbrido, entre documentário e ficção. Numa época tão dependente de imagens digitais, “Jauja” triunfa ao reler a clássica combinação de homem e paisagem.
Avaliação: Bom
Veja horários e salas de “Jauja”.