Maria Alice Vergueiro estrela curta rodado em Planaltina
Atriz paulistana enfrentou as limitações impostas pelo mal de Parkinson para filmar
atualizado
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A vida de Maria Alice Vergueiro sempre foi conduzida por sua paixão pelas artes. Para se manter no palco, ela superou o vício em bebidas alcoólicas, um câncer na garganta e as limitações impostas por próteses mal colocadas nos joelhos. Essa mesma paixão fez com que a atriz paulistana, aos 80 anos e com mal de Parkinson, deixasse o conforto de sua casa em São Paulo para vir ao Distrito Federal a trabalho.
Durante quatro dias de julho, Maria Alice bateu o ponto em um casarão no Setor Tradicional de Planaltina, filmando o curta-metragem “Rosinha e Assis”, do brasiliense Gui Campos. A doença parece não atrapalhar o estudo dos textos. O profissionalismo e a vaidade continuam intactos.Durante as filmagens, mesmo quando não estava em cena, Maria Alice fazia questão de assistir à gravação dos colegas – Andrade Júnior e João Antônio. Ao perceber que estava sendo fotografada, pediu ajuda para que penteassem os seus cabelos
.“Achei ótima a ideia do filme. Eu e o Gui temos uma amiga em comum. Quando o convite chegou, sabia que ele era um ótimo diretor, mas não o conhecia pessoalmente. Aceitei o projeto para ver no que ia dar”
Pela determinação da atriz, o mal de Parkinson, que seria um empecilho, tornou-se solução. A fala pausada e as atuais limitações motoras – ela passa quase 90% do tempo em uma cadeira de rodas e só sai dela com a ajuda de uma enfermeira – passaram a acompanhar o perfil das personagens.
O curta rodado em Planaltina narra a história de um curioso triângulo amoroso na terceira idade. O personagem Assis (Andrade), prevendo que vai morrer, sugere ao amigo Brandão (Antônio) que fique com Rosinha (Maria Alice) depois da morte dele. Proposta aceita, o trio passa a viver junto, tudo em nome do amor.
“Tenho uma relação de fã com Maria Alice. Tinha visto o trabalho dela em ‘Tapa na Pantera’, o primeiro vídeo brasileiro a bombar na internet. Depois, tive a chance de assisti-la na peça ‘As Três Velhas’, de Alejandro Jodorowsky”, lembra Gui Campos. “Ao escrever o roteiro, pensei em convidá-la para o papel. Parecia impossível, mas quando a verba para o curta saiu, fizemos o convite e ela topou. Trabalhar com ela me tornou ainda mais fã”.
“Ao fazer ‘Why the Horse?’, quis mexer com o tabu que envolve a morte. Há momentos em que acredito nela. Em outros, não. E acontece com todo mundo. É interessante viver isso com o público”
Em cartaz na capital paulista desde abril, o espetáculo “Why the Horse?” mostra Maria Alice Vergueiro encenando o próprio velório. A reação do público é tão surpreendente quanto o enredo. “Essa situação é muito engraçada. Afinal, estão indo para ver o meu velório. Uns choram, outros riem. Acho ótimo”, diz a atriz.
Desde que subiu ao palco pela primeira vez, em 1962, dirigida por Augusto Boal em “Mandrágora”, a atriz fez 32 peças, 12 filmes e até uma novela, “Sassaricando” (1987), de Silvio de Abreu. Contudo, o reconhecimento popular só veio em 2006, com o vídeo “Tapa na Pantera”.
Na ficção de Esmir Filho, Maria Alice é uma senhora que faz piada com o fato de fumar maconha há décadas. “Não me incomodo por lembrarem de mim por esse trabalho. Pelo contrário. Sinal de que gostaram”, analisa. “Da época do vídeo para cá, o debate sobre o uso da maconha não caminhou. Na verdade, não é um debate. É um buchicho. Mas, ainda assim, é importante”.
Assista a vídeo com cena de Maria Alice Vergueiro na novela “Sassaricando” (1987):
Fotos: Michael Melo/Metrópoles; Divulgação