Entre farras e invenções, “Chatô – O Rei do Brasil” narra a saga do magnata da mídia nacional
Dirigida por Guilherme Fontes, a conturbada produção acompanha a vida do empresário Assis Chateaubriand em trama caótica e delirante
atualizado
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“Chatô – O Rei do Brasil” é um filme difícil de ser analisado sem levar em consideração seu turbulento entorno. Por outro lado, até pela presença massiva e noticiosa dos bastidores, é um produto que precisa ser visto e refletido somente pelo que se vê na tela.
Quando o ator Guilherme Fontes quis adaptar a biografia escrita por Fernando Morais, em 1995, o cinema brasileiro ainda estava aos cacos, após o governo Collor. O longa começou a ser rodado em 1999 e se arrastou num imbróglio fiscal e judicial, que só se encerraria no segundo semestre de 2015, com o tão adiado lançamento.
O “filme de época” mais atribulado do cinema nacional narra décadas de farras, chantagens políticas e aventuras midiáticas na vida do empresário paraibano Assis Chateaubriand. Fontes divide o eixo dramático do longa em duas frentes. Uma delas acompanha o magnata após uma trombose, a delirar como se estivesse num julgamento público de sua persona. A sessão é transmitida para todo o Brasil pela TV Tupi, num programa em que o cenário mostra os rostos pintados por Tarsila do Amaral no quadro “Operários”.
Com diálogos igualmente histéricos e uma direção de arte exibida, como que a justificar os gastos excessivos do filme, Fontes também enquadra Chatô perambulando por redações de jornal a gritar manchetes, os encontros ríspidos e amistosos com Getúlio Vargas (Paulo Betti) e sua conturbada relação com a amante Vivi Sampaio (Andréa Beltrão).
Um filme errático – para o bem e para o mal
Para um perfil que se pretende tão caótico e febril, há uma estranha preocupação em encher as conversas de repertório histórico. “Chatô”, por vezes, parece não se resolver entre fábula brasileira, com todas as contradições que só esse país fornece, e estudo de um personagem complexo, abrasivo e com tiques de visionário.
O Chateaubriand de Fontes é capaz de manipular uma matéria de jornal para forçar um patrocinador a aumentar as cotas dos anúncios. Segundos depois, empunha uma peixeira, assume ar de jagunço e diz que vai modernizar esse país na marra. Se a narrativa sofre com o excesso de diálogos tão excêntricos quanto informativos, essa bipolaridade é engolida com inteligência por Marco Ricca.
Numa atuação próxima do Leonardo DiCaprio de “O Lobo de Wall Street” (2013)”, o protagonista encarna a fanfarronice do personagem como uma espécie de “Cidadão Kane” carnavalesco e travesso. “Chatô – O Rei do Brasil” almeja a síntese de um país maluco, tão falido quanto próspero. Por fim, é um produto tão disperso que acaba se tornando somente um resumo de si mesmo – e de seus intermináveis e tumultuados bastidores.
Avaliação: Regular
Veja horários e salas de “Chatô – O Rei do Brasil”.