Em “Ponte dos Espiões”, Spielberg encarna a Hollywood clássica
Uma das estreias desta quinta (22/10), o filme traz Tom Hanks no papel de um advogado envolvido em delicadas questões diplomáticas durante a Guerra Fria
atualizado
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Um homem a pintar um autorretrato, já no primeiro plano de “Ponte dos Espiões”, a princípio não soa como a introdução mais apropriada para um filme ambientado na Guerra Fria. Quando se trata de Steven Spielberg, porém, essa leveza assume um ar de Hollywood clássica: em vez de uma narrativa corrida e pulsante, típica do thriller, o cineasta prefere um registro sobre a simples honestidade, tal qual se fazia em dramas de tribunal entre os anos 1930 e 1950.
O artista é, na verdade, Abel (o ótimo Mark Rylance), um agente russo prestes a ser desmascarado nos Estados Unidos. Mais habituado a processos envolvendo seguros, o advogado James B. Donovan (Tom Hanks) é destacado pela CIA para defender o espião. E ele representa o estrangeiro com dedicação e argumentação, para a ira do juiz e dos promotores.
Donovan percebe que está se metendo em questões de dimensão diplomática quando um piloto norte-americano, Francis Gary Powers (Austin Stowell), é capturado pelos russos. A possibilidade de troca ganha contornos ainda mais romanescos. Estudante de economia, Frederic Pryor (Will Rogers) viu o Muro de Berlim ser erguido diante dos seus olhos. Ao tentar uma fuga, é preso por soldados da Alemanha Oriental. Adivinhe só quem é designado para resolver o imbróglio?
Atmosfera de filme clássico
Spielberg sempre ocupará um lugar cativo na indústria de cinema por ter inventado o conceito de blockbuster em “Tubarão” (1975). Seu poderio estético, no entanto, extrapola a seara do filme-espetáculo. Nos anos recentes, o diretor tem investido num tipo de entretenimento, claro, ainda universal, mas belamente antiquado para os padrões atuais.
Essa proposta “classuda” funcionou em “Cavalo de Guerra” (2011), construído como um faroeste, e reverberou em “Lincoln” (2012). A elegância formal alcançada em “Ponte dos Espiões” coloca o filme na mesma gaveta de “O Espião que Sabia Demais” (2011), um retrato severo e contido da Guerra Fria.
O esperado toque de sentimentalismo spielberguiano – às vezes confundido com patriotada – não compromete o resultado final. Em “Ponte dos Espiões”, transparece uma saudável (e renovadora) atmosfera de filme clássico.
Avaliação: Ótimo
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