Em “Big Jato”, Cláudio Assis abraça a cultura pop
Os hilários curtas “Quintal” e “Afonso É uma Brazza” tornaram a sessão deste sábado (19/9) a mais divertida do Festival de Brasília
atualizado
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“Big Jato” (PE, 92min), de Claudio Assis
Para quem está habituado aos filmes do diretor pernambucano, “Big Jato” pode soar um tanto estranho. Adaptado do livro de Xico Sá, o longa se desenrola como o trabalho mais acessível e clean do cineasta. A tal poética “maldita” de Sá é bem menos ferina do que parece, com algumas boas tiradas cômicas e sua já conhecida verve para falar sobre coração, sexo e cultura pop.
Filmando pela primeira vez sem Walter Carvalho, que fotografou os outros três filmes de Assis (“Amarelo Manga”, “Baixio das Bestas” e “Febre do Rato”), o cineasta encontrou em Marcelo Durst lentes solares, numa proposta visual mais límpida do que o usual Recife sombrio do realizador. Em “Big Jato”, narra-se a iniciação intelectual, sentimental e sexual de Xico (Rafael Nicácio), um adolescente do interior de Pernambuco que almeja a poesia, a arte e um futuro fora dali.
O cotidiano desse garoto é, digamos, bastante insalubre: ele acompanha o pai, vivido por Matheus Nachtergaele, a bordo do caminhão Big Jato, que zanza pelo município a desentupir fossas. Enquanto o sujeito é ignorante e pragmático, preocupado apenas em trabalhar e beber sua cachaça, o tio, também interpretado por Nachtergaele, é um radialista boêmio e libertário. Em comum, os irmãos guardam a obsessão por Beatles – e um machismo irrefreável.
Esse universo tão fisiológico quanto poético emprestado por Sá encontra ecos nas metáforas sertanejas de Assis: aqui, vê-se um rito de passagem banhado nessa angústia da vida no interior, onde a marcha do tempo parece tão eterna quanto os fósseis que na terra se cristalizaram. Ao forjar uma fábula juvenil a partir do lirismo pop de Sá, Assis soa mui comportado e quieto – até mesmo para seus não seguidores.
Avaliação: Regular
Os curtas de sábado (19/9)
“Quintal” (MG, 20min), de André Novais Oliveira
André Novais volta a filmar seus pais, Maria José e Norberto, neste curta, tal qual fez no longa “Ela Volta na Quinta”, exibido ano passado na mostra competitiva. O diretor dispensa a já conhecida mise-en-scène dos filmes híbridos e propõe uma comédia familiar à la anos 1980. Um buraco negro surge no quintal, enquanto Zezé cuida de seus afazeres. O marido, numa tarde tediosa, senta-se em frente à TV e, naturalmente, como se estivesse diante do noticiário, vê um filme pornô. Enquanto isso, a fenda espaço-temporal só aumenta, ameaçando engolir quem por ali passar.
Situações das mais absurdas e hilárias quebram qualquer compromisso com a lógica realista que, obviamente, existe entre marido e mulher fora da tela. Zezé vai à academia, malha forte e, numa conversa com o personal trainer, pretende virar sócia do sujeito. Norberto entra no buraco negro e volta da viagem cósmica com uma tese de mestrado intitulada “Bundas e Óleos”, uma investigação profunda sobre o cinema pornô dos anos 1990. Por fim, o soco no ar de Norberto, num frame congelado, cita a maneira singela como John Hughes terminava seus filmes. Sobra carisma.
Avaliação: Ótimo
“Afonso É uma Brazza” (DF, 23min), de Naji Sidki e James Gama
Mito do cinema de ação brasileiro, Afonso Brazza é retratado neste making of rodado durante as filmagens de “Tortura Selvagem – A Grade” (2001). O curta levou dezesseis anos para ganhar a tela grande. E, quando o fez, recuperou com precisão (e emoção) o improviso e a generosidade de um dos cineastas mais queridos de Brasília.
Brazza era de métodos simples: não ensaiava uma cena mais do que duas vezes e planejava as sequências de ação ali no calor do momento, entre um plano e outro. Divertidas imagens de bastidores à parte, o curta também narra a trajetória de Brazza em entrevistas certeiras. Enquanto mostra como foi capaz de montar um filme numa tábua, ele fala da passagem pela Boca do Lixo, em São Paulo, onde aprendeu tudo sobre cinema, e a paixão por Claudette Joubert. Eis um perfil vibrante e célere, como um bom action movie.
Avaliação: Bom