Crítica: “Uma Loucura de Mulher” é comédia divertida e elegante
Com trama ambientada na ponte Brasília e Rio de Janeiro, estreia na direção do produtor brasiliense Marcus Ligocki Júnior prima pela produção simples e caprichada
atualizado
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Eis que, nesse mar de mediocridade que virou a comédia no Brasil, com a pasteurização da estética de televisão e da publicidade por meio de histórias grosseiras e banais, surge uma ilha de segurança no gênero. Ela se chama “Uma Loucura de Mulher”, estreia do produtor Marcus Ligocki Júnior atrás das câmeras. Despretensioso, leve e divertido, o filme não deixa de ser uma sutil prova de evolução de projetos audiovisuais do Distrito Federal na produção.
Aqui, a conturbada história do casal Gero (Bruno Garcia) e Lúcia (Mariana Ximenes). Ele um político que se prepara para entrar na corrida para o Governo de Brasília. Ela a esposa dedicada que tinha o sonho de seguir carreira na dança. Numa imponente mansão do Lago, eles dão uma festa de arromba para conseguir apoio de importante político vivido pelo saudoso Luiz Carlos Miele, em seu último trabalho no cinema.
“Mas que vestido é esse? Roxo é a cor da oposição, meu amor!?”, desespera-se Gero, ao ver a mulher se apresentando aos convidados. “Lilás… Cor de fim de tarde”, corrige ela, sem perceber a gafe política.
Engana-se quem pensa que “Uma Loucura de Mulher” se trata de mais uma trama explorando os clichês temáticos sobre uma capital marcada pela corrupção, jogos escusos e políticos imorais. Tudo isso entra em cena num segundo plano, mas de uma forma velada e sofisticada. Tão velado e sofisticado que nem percebemos esses signos.
O assunto aqui é outro. A valorização da mulher por meio de uma trama norteada por diálogos afiados e deliciosas situações de erros. “Uma Loucura de Mulher” consegue falar de temas pertinentes numa relação amorosa em conflito sem apelar para o humor chulo de recentes comédias do eixo Rio-São Paulo.
Produção elegante
Depois de se sentir desrespeitada e negligenciada por um marido ambicioso e sem escrúpulos, Lúcia parte para o Rio de Janeiro. Lá, o passado não lhe sopra ventos agradáveis, mas o antigo apartamento do pai é o único refúgio longe de tanta humilhação e descaso. As coisas começam a melhorar quando ela esbarra com um grande amor da infância (Sérgio Guzé), agora um cirurgião plástico de renome.
A exemplo do drama “O Outro Lado do Paraíso” – filme de Brasília também em cartaz na cidade -, “Uma Loucura de Mulher” prima pela produção simples, mas elegante. Nada a ver com projetos toscos como “Até Que a Casa Caia”, de Mauro Giuntini. Aqui, os cenários e figurinos surgem em cena de forma corretos, assim como a fotografia sóbria de André Carvalheira, que capta apaixonantes símbolos de Brasília com um olhar diferente. Mira a câmera que sobe rumo à Terceira Ponte vindo do Jardim Botânico ou o Congresso Nacional visto de forma deslumbrante da Torre de TV.
Sem firulas, o roteiro é potencializado por boas atuações do elenco principal e de apoio. Guida Vianna, na pele da vizinha xereta de Ximenes está impagável. E Mariana Ximenes se mostra tão segura e deslumbrante em cena que até dá vontade de se apaixonar por ela.
Ok, não estamos diante de nenhuma comédia genial de Billy Wilder, nem parece que esta era a pretensão do estreante cineasta Marcus Ligocki Júnior. O grande objetivo aqui talvez fosse o de fazer uma comédia sincera, sem insultar a inteligência do espectador. Deu certo.
Avaliação: Bom
Veja horários e salas de “Uma Loucura de Mulher”.