Crítica: “O Cavalo de Turim” narra crônica sobre mortalidade
Filme que marcou a aposentadoria do cineasta húngaro Béla Tarr acompanha o cotidiano penoso de um cocheiro ao lado da filha e de um cavalo
atualizado
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Diz o rumor histórico que o filósofo alemão Nietzsche, em 1889, andava por Turim (Itália) quando viu um cavalo ser punido por seu dono em praça pública. O pensador abraçou o animal pelo pescoço e, pouco depois, desfaleceu. O colapso mental que envolveu o escritor perdurou por anos até sua morte, em 1900.
O diretor húngaro Béla Tarr narra essa história em off, numa tela escura. Só interessa ao cineasta, que decidiu se aposentar após “O Cavalo de Turim”, especular sobre a penúria do cocheiro, da filha e do cavalo.
A morte veste preto e branco
Cultuado pela estupenda utilização de planos longos, Tarr constrói um filme que deslumbra pela pureza das ações narrativas. Um realismo que recusa firulas de câmera para compor eventos em tempo real e de poucos diálogos. Cada dia na vida do cocheiro, da filha e do cavalo é emoldurado por cenas que acompanham sempre os mesmos atos.
O velho desperta e é vestido pela filha. Ele entorna doses de aguardente. A jovem enfrenta a nevasca e a poeira lá fora para coletar água do poço. Retorna, cozinha batatas. Eles comem à mesa. Tentam dar de comer ao cavalo, que resiste, mas não relincha. É isso: uma marcha em preto e branco com destino certo e universal – a morte.
Finalizado em 2011, o derradeiro trabalho de Tarr chega em ano comercialmente interessante para o cinema húngaro. “Filho de Saul” venceu Oscar e Globo de Ouro de melhor produção estrangeira, enquanto outro longa do país, “White God”, também passou pelo circuito brasileiro e teve repercussão em festivais. Dos três, o único filme que triunfa artisticamente é “O Cavalo de Turim”.
Avaliação: Ótimo
Veja horários e salas de “O Cavalo de Turim”.