Crítica: “Na Vertical” é crônica apática sobre sexo e absurdo
Dirigido por Alain Guiraudie, filme francês mistura comédia e drama para comentar as andanças de um cineasta pelo interior do país
atualizado
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Leo (Damien Bonnard) está dirigindo pelos campos franceses quando avista o jovem Yoan (Basile Meilleurat) à beira da estrada. Ele para ao seu lado, sai do carro e diz que é um escritor de roteiros. Será que Yoan não iria querer acompanhá-lo para um teste? (A resposta é um curto “não”.)
Esta pequena cena exemplifica o que há de melhor no filme “Rester Vertical”, do francês Alain Guiraudie. Será que Leo está falando a verdade? Ele é um roteirista? Se não for, ele busca um encontro sexual com Yoan? E se for, será que tem o propósito sexual mesmo assim? E por que Yoan recusa tão de imediato?
Dessa vez ele diz que está em busca de um lobo silvestre. Minutos depois os dois já estão se beijando e se acariciando. Poucos minutos depois Leo já está morando com a pastora, Marie (India Hair), seus dois filhos e o pai dela, Jean-Louis (Raphael Thiry). Finalmente, Marie tem um terceiro filho, agora com Leo, e após o parto ela pega seus dois filhos maiores e dá no pé, explicando que passa por uma depressão pós-parto.
É drama familiar para sustentar um filme inteiro, mas isso tudo acontece nos primeiros 10 minutos de filme. O que sucede é bem mais bizarro e, no final das contas, alienante. Leo luta pra se conformar em ser pai solteiro ao mesmo tempo em que o próprio sogro dá em cima dele.
Filme estranho e incoerente
Enquanto um produtor aparece pelas redondezas para cobrar dele o roteiro devido (descobrimos que Leo é, de fato, um roteirista tentando terminar um roteiro), nosso protagonista busca uma médica com métodos um tanto alternativos para tentar se livrar de seus defeitos. Além disso, ele reencontra Yoan, e acaba fazendo parte de um jogo sexual entre o jovem e um velho homofóbico que mora com ele. Ah, e a promessa da busca por um lobo é recompensada.
Dando a tudo um ar de fábula contemporânea, fica evidente que Guiraudie busca uma conversa sobre pais e filhos (as únicas mulheres na trama são a pastora fujona e a médica estranha) que mescla o convencional com o sexual. Órgãos genitais aparecem de longe e de perto, flácidos e eretos, assim como o uso destes. Nenhuma decisão dos personagens faz sentido e eles parecem habitar uma nuvem de tédio, vagando de uma cena pra outra, sem presença ou personalidade para instigar o espectador.
Filmes não precisam deixar tudo explicado e amarrado para quem os assiste, mas para um diretor arriscar isso, ele precisa suplementar a narrativa com uma visão interessante. Aqui, o sexo e o absurdo em evidência é conduzido de maneira completamente desinteressante e apática. Um prato cheio para Sigmund Freud, mas estranho e incoerente demais para a maioria das pessoas.
Avaliação: Ruim
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