Crítica: “Jackie” apresenta Jacqueline Kennedy crua e realista
Cinebiografia da ex-primeira drama, que estreia nesta quinta-feira (2/2), retrata os dias após o trágico assassinato de JFK
atualizado
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Se você estava cansado de cinebiografias melosas e cheias de clichê, “Jackie”, estrelado por Natalie Portman, é o filme indicado para curtir neste final de semana. Longe de toda pieguice clássica de outros longas sobre mulheres emblemáticas, a obra dirigida por Pablo Larraín é um retrato cru e nada glamouroso da ex-primeira-dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy, dias após o trágico assassinato de seu marido, John Kennedy, em 1963.
O filme prende o espectador do inicio ao fim. A brilhante atuação de Natalie Portman harmoniza com o trabalho de Larraín, o roteiro de Noé Oppenheim e a música de Mica Levi, que complementa a ideia do filme de ser tocante, mas nada extra-sentimental.
É nisso que “Jackie” consegue se diferenciar de outras películas, que se deixaram levar por narrativas românticas e extremamente fantasiosas — como o cansativo “Diana”, estrelado por Naomi Watts e o insosso “Grace”, com Nicole Kidman.
O viés escolhido pelos produtores é mostrar uma Jackie combativa, perspicaz, inteligente e bastante pragmática diante de tamanha atrocidade. É um alento ver um filme onde a personagem feminina não é definida por afinidades frívolas como moda e luxo e que tais substantivos exercem papel secundário em sua personalidade.
A trama se desenrola tendo como base o episódio do assassinato. Jackie, bastante reservada, aceita receber um repórter em sua casa em Hyannis Port, Massachusetts, uma semana depois de Kennedy ter sido morto. Enquanto o jornalista anônimo (Billy Crudup) tenta, inutilmente, compreender o atual estado psicológico da primeira-dama, ela logo revela que está no comando. A entrevista é fictícia. Provavelmente baseada em uma compilação de entrevistas em áudio lançada por Caroline Kennedy, em biografia de 2011.Daí por diante, Larrain recria o especial Uma excursão da Casa Branca com a Sra John F. Kennedy, de 1962, para lançar luz sobre a percepção pública de Jackie. O close no rosto de Jackie, no momento em que ela limpa o sangue do marido do rosto (e logo depois tem que estar pronta para a foto que tornaria oficial a presidência do vice Lyndon B. Johnson), mostra um sofrimento palpável, ofuscado apenas pelo momento dos disparos — sabiamente encaixado na parte final.
Os conflitos entre a compreensão e os sentimentos destrutivos de sua psique desmistificam o mito em torno de uma mulher comum. Na cena em que está no cemitério, ela reclama que seu salto afunda na lama. Quando empacota suas roupas para sair da Casa Branca, Jackie mostra-se confusa e sem esperança.
Ao lembrar das infidelidades do marido, ela aparece inconformada. “Acho que ninguém teria inveja de mim agora”, lamenta para a assistente. A vulnerabilidade da personagem cria empatia no espectador, mas desconstrói o paradigma principal do filme: a ideia irreal de que a vida, com todas as suas fragilidades, pode ser perfeita.
Avaliação: Ótimo
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