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Crítica: “Cícero Dias – O Compadre de Picasso” faz um perfil tocante

Novo documentário do veterano Vladimir Carvalho, “Cícero Dias – O Compadre de Picasso” é aventura intimista pela obra do pintor pernambucano

atualizado

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cicero dias, vladimir carvalho, picasso
1 de 1 cicero dias, vladimir carvalho, picasso - Foto: Divulgação

Desde 1948 que o cineasta Vladimir Carvalho confronta com a obra e trajetória do pintor modernista pernambucano Cícero Dias (1907-2003). Tudo começou quando, aos 13 anos de idade, ele presenciou uma discussão trepidante entre o pai e um tio, esse último, um radical opositor ao estilo vanguardista provocador do artista, já em seus primeiros trabalhos, explorando com beleza lírica, a beleza do erotismo feminino.

De lá para cá, o diretor de obras marcantes como “Conterrâneos Velhos de Guerra” (1991) e “O Engenho de Zé Lins” (2007) gestou na memória esse personagem fantástico da cultura brasileira com camadas e mais camadas de informação, impressões e experiências pessoais. O resultado dessa aventura intimista que atravessou décadas é o documentário “Cícero Dias – O Compadre de Picasso”, seu mais recente projeto, totalmente independente.

O estilo de filmar de Vladimir é simples e direto. Não importa se você nunca ouviu falar em Cícero Dias – e é bem capaz que as novas gerações não saibam quem é e a importância que o pintor teve como agente entre o velho e novo nas artes –, quando deixar a sessão, movido pela leveza narrativa precisa do filme, estará apaixonado, encantado, por essa figura do modernismo brasileiro.

A fita começa com imagens bonitas feitas no cemitério de Montparnasse, em Paris. Ali, onde estão enterrados grandes vultos da arte e do pensamento mundial – entre eles Simone de Beauvoir, Julio Cortázar, Charles Baudelaire, Serge Gainsbourg –, encontra-se o túmulo de Cícero Dias com o seguinte epitáfio: “Eu vi o mundo… e ele começa no Recife”.

É o ponto de partida, que o mestre Vladimir pega para nos conduzir e apresentar seu objeto de pesquisa, um objeto fascinante cuja trajetória tem início em 1907, no interior de Pernambuco. Ali, na região de Jundiá, na pequena Escada, cercado pela família numa enorme casa de engenho proustiana, que o menino Cícero buscaria elementos imaginários e sensoriais locais para criar uma obra solar, lírica e surrealista pontuada pelas cores de seu estado natal.

Força temática e artística
“Ele adorava, por exemplo, quando menino, tocar fogo no matagal de bambu perto de casa só para ficar ouvindo o som da folhagem queimando”, comenta um dos entrevistados resumindo que, com isso, Cícero correu o mundo, mas as cores, sons e cheiros de seu querido Pernambuco nunca lhe saíram de dentro de si.

E não só a figura de Cícero Dias é fascinante no documentário, mas também os personagens que gravitaram em sua órbita ao longo da carreira como os conterrâneos Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, Murilo Mendes, quem lhe abriu as portas no eixo Rio São Paulo, nos anos 30, Di Cavalcanti, quem lhe sugeriu, no auge do Estado Novo de Getúlio Vargas, partir para Europa.

Na cadência cronológica convencional de um documentário, entrevistados de luxos como o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna (1927-2014) e o artista plástico Francisco Brennand, entre outros, alimentam a discussão em torno da influência da influência do pintor russo Marc Chagall (1887 – 1985) na obra de Cícero Dias, contam histórias pessoais como a amizade com Picasso – padrinho da filha Sylvia –, enfim, os conflitos que o pintor enfrentou ao longo da vida diante da perplexidade e rejeição que seus trabalhos modernistas causaram.

Com “Cícero Dias – O Compadre de Picasso”, o velho conterrâneo de guerra do cinema verdade nacional nos brinda com um duplo presente. Primeiro nos apresentando essa figura ímpar das artes brasileira. Segundo com a realização de mais um filme embriagado de tocante sinceridade temática e artística.

Avaliação: Bom

Veja horários e salas de “Cícero Dias – O Compadre de Picasso”.

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