Crítica: “Caça-Fantasmas” tenta reviver franquia com heroínas
As atrizes de comédia Kristen Wiig e Melissa McCarthy comandam a nova aventura sobre fantasmas prestes a dominar Nova York
atualizado
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Assim que saíram as primeiras imagens da nova versão de “Os Caça-Fantasmas” (1984), com mulheres no papéis principais, um bando de machistas e misóginos logo iniciou uma onda de ódio e boicote ao filme, rejeitado antes mesmo do lançamento. Mais um exemplo de “fãs” que se julgam donos de seu objeto de culto. Eis a constatação: o reboot atualiza questões de gênero, mas é uma diversão tão frágil quanto o produto original.
Depois de construir sua reputação com as boas comédias “Missão Madrinha de Casamento” (2011), “As Bem-Armadas” (2013) e “A Espiã que Sabia de Menos” (2015), Paul Feig dá um passo natural em Hollywood: comanda um blockbuster, com o compromisso de tanto homenagear quanto reviver a matriz.
Em vez de Bill Murray, Dan Aykroyd e Harold Ramis – três dos grandes comediantes dos anos 1980 –, Feig coloca duas das maiores atrizes de humor atuais, Kristen Wiig e Melissa McCarthy, no comando da trama. Na história, elas estão separadas há dez anos, após um aventureiro livro sobre fantasmas.
Erin (Kristen) reencontra Abby (Melissa) quando a publicação ressurge na internet e ameaça sua carreira de “cientista séria”. Desavenças à parte, elas conseguem se entender quando uma ameaça sobrenatural começa a assombrar Nova York em eventos aparentemente isolados.
Holtzmann (Kate McKinnon), uma nerd excêntrica, mas capaz de criar gadgets num piscar de olhos, é parceira de laboratório de Abby e entra no time. Funcionária do metrô, Patty (Leslie Jones) não sabe nada de ciência, mas conhece a metrópole como ninguém. Está feito o quarteto.
Feminismo comportado, mas sempre bem-vindo
Daí em diante, “Caça-Fantasmas” não faz muito mais do que reconstruir a mitologia do original e se apoiar em gracejos e pequenos tributos ao filme de 1984. Murray, Aykroyd, Ernie Hudson, Sigourney Weaver, Annie Potts, astros do original, fazem aparições pontuais, cumprindo o protocolar fan service (“serviço para os fãs”, como se diz nos Estados Unidos).
O rabecão caça-fantasma retorna com novos aparelhinhos, a trilha e a logo marcam as cenas de afirmação das heroínas e os ectoplasmas – Slimer incluído – soam retrôs, todos verdes ou azuis. Um filme de pouca imaginação, limitado pelo excesso de referências, mas que ousa flertar aqui e ali com o empoderamento da mulher.
Nesse sentido, Chris Hemsworth interpreta Kevin, o secretário bonitão, sonso e lerdo das caçadoras de espíritos. Feig meramente retrabalha clichês, mas pelo menos consegue infiltrar algum frescor na seara masculinizada dos blockbusters: o quarteto de heroínas não depende de homens para salvar Nova York e traz seu próprio repertório de piadas – algumas feministas, outras pop e cinéfilas.
O reboot serve, entre outras coisas, para empalidecer o original e relativizar o culto em torno da franquia, que teve um esquecível segundo filme em 1989. No fim das contas, tudo se resume a um clímax explosivo no coração de Nova York, com tiradas boas e ruins a embalar cada captura de fantasma, e pontes de roteiro prontinhas para pavimentar uma sequência.
Avaliação: Regular
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