Crítica: “Ave, César!” homenageia e satiriza a Hollywood clássica
Novo filme dos irmãos Coen reúne George Clooney, Scarlett Johansson e Channing Tatum em hilária comédia sobre os velhos tempos da indústria de cinema
atualizado
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A partir do sempre infalível mote do desaparecimento, os irmãos Ethan e Joel Coen retornam aos tempos da Era de Ouro de Hollywood, entre os anos 1930 e 1950, para renovar seu próprio universo cinematográfico. Musicais, épicos e dramas de época são condensados num filme que parece transitar entre a homenagem e o escárnio, como é típico da dupla.
Não por acaso, “Ave, César!” começa e termina com Eddie Mannix (Josh Brolin), executivo dos estúdios Capitol, se confessando para um padre. Num período de tempo que se estende por pouco mais de 24 horas, ele tenta manter as várias produções do estúdio funcionando enquanto investiga o paradeiro de Baird Whitlock (George Clooney), estrela da megaprodução “Ave, César!”.
No filme dentro do filme, Baird vive um centurião romano quebrantado pela paixão de Jesus Cristo. Em meio às filmagens, ele é sequestrado por roteiristas ligados ao comunismo. Cansado de nunca ver a cor do dinheiro das bilheterias, o grupo de escritores tenta desmantelar o capitalismo ao comprometer a indústria de entretenimento.
As referências marxistas e cristãs, obviamente, não são novidade para os diretores. Mas, desta vez, a dupla parece mais interessada em resgatar um certo temperamento de época, reproduzindo métodos de direção e atuação numa roupagem irônica e reverente.
A antiga Hollywood recriada: ironia e reverência
Mannix precisa se movimentar para ficar de olho nas demais produções e solucionar eventuais problemas. Além de apurar o sumiço, ele busca aparar a imagem pública de DeeAnna Moran (Scarlett Johansson), mãe solteira e estrela de filmes aquáticos. Quando consegue uma brecha, checa como anda o musical de marinheiros estrelado por Burt Gurney (Channing Tatum).
Ele tem um tremendo trabalho para administrar o ego do cineasta britânico Laurence Laurentz (Ralph Fiennes), obrigado a dirigir o astro caubói Hobie Doyle (Alden Ehrenreich) no drama “Noite Feliz”. A sequência em que Doyle mostra-se incapaz de decorar uma simples fala rende alguns dos momentos mais inspirados de “Ave, César!”.
Como tem sido comum em filmes recentes dos Coens, a exemplo de “Inside Llewyn Davis” (2013) e “Bravura Indômita” (2010), as breves aparições dos coadjuvantes acabam roubando o protagonismo da trama principal. A excêntrica montadora interpretada por Frances McDormand evidencia como os cineastas são capazes de criar sequências hilárias completamente isoladas do núcleo principal. Tilda Swinton, vivendo gêmeas colunistas de fofoca, e Jonah Hill também brilham com poucos minutos de tela.
De uma forma curiosa, “Ave, César!” funciona como um leve contraponto ao outro filme dos Coens sobre Hollywood, “Barton Fink” (1991). Enquanto o trabalho anterior revelava traços angustiantes para narrar as agruras de um conceituado roteirista de teatro em Hollywood, a novidade registra mais encanto que melancolia. Ainda assim, não deixa de ser uma releitura cínica de tempos que jamais voltarão.
Avaliação: Bom
Veja horários e salas de “Ave, César!”.