Crítica: “A Bruta Flor do Querer” é filme de guerrilha sobre cinema
Trabalho da dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade acompanha um cineasta com dificuldades sentimentais e profissionais
atualizado
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O problema do cinema de guerrilha no Brasil produzido pelas novas gerações é que qualquer um pode fazer filme. Qualquer um mesmo. Com a facilidade dos recursos digitais, das novas mídias então, corre-se o risco de se deparar com projetos pretensiosos e, igualmente, apáticos, como esse drama romântico da dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade. Sim, porque escrever roteiros é uma coisa. Dar coerência narrativa as ideias é outra bem diferente.
Amigos do curso de cinema que começaram a carreira realizando curtas-metragens juntos, os dois jovens cineastas estreiam na direção de longa-metragem de forma, digamos assim, desastrada. Na trama, a história de Diego (Dida Andrade) dividida em quatro atos. Ele é um cineasta desiludido com o trabalho, apaixonado, platonicamente, por Diana (Diana Motta), uma dessas garotas charmosas que se encontra fácil, pelos sebos de São Paulo.
“Que triste um homem viver de clichê”, lamenta, ele, ao avaliar a situação.
À medida que a história vai seguindo, os rumos desse amor não correspondido vão ganhando dimensões tão bizarras quanto a do protagonista, que esconde suas frustrações atrás de drogas, bebidas e noitadas furtivas.
Exercício de metalinguagem fútil e ideias visuais rasteiras
Com título surrupiado da canção, “Quereres”, de Caetano Veloso, “A Bruta Flor do Querer”, uma das atrações da mostra competitiva do Festival de Gramado, em 2013, foi realizado com recurso zero de orçamento. Daí a referência ao cinema de guerrilha do início do texto. O que não tira em nenhum momento o mérito do esforço desses dois realizadores do bravo cinema nacional independente.
O problema está em desperdiçar momento de rara ousadia e transgressão criativa, com um projeto marcado por clichês juvenis e ideias visuais rasteiras. A confluência de referências e citações cinematográficas beira ao ridículo, enfatizando um trabalho meramente de principiantes. Vai, gratuitamente, de Sganzerla a “Touro Indomável”, passando pelo elogiado livro de Peter Biskind, aquele sobre a geração de cineastas que salvou Hollywood nos anos 70.
Não bastasse o constrangimento dos exercícios de metalinguagem fúteis, cenas de nudez desnecessárias, o filme escorrega num roteiro fraco que tenta fazer do espectador cúmplice de viagem sentimental amorosa boboca e até mesmo de observações machistas deselegantes, como aquela em que contesta o “assanhamento” das mulheres nos dias de hoje.
Em poucas palavras, “A Bruta Flor do Querer” se propõe a ser muita coisa e no fundo não é nada.
Avaliação: Ruim
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