Cine Brasília vive nova fase, com bons filmes de arte e público fiel
A programação envolvente e exclusiva oferecida pelo tradicional cinema da 106/107 Sul tem atraído cada vez mais a atenção dos brasilienses em 2016
atualizado
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Espécie de templo não oficial do cinema brasileiro, o Cine Brasília reconquistou o interesse de novos e velhos cinéfilos em 2016. Títulos que antes só costumavam estrear no eixo Rio-São Paulo agora também chegam por aqui e, em vários casos, exclusivamente no único cinema de rua da capital. Só neste ano, o espaço coleciona bilheterias dignas de blockbuster com longas alternativos, da animação “O Menino e o Mundo” ao colombiano “O Abraço da Serpente”.
Se antes o Cine Brasília só lotava durante o Festival de Brasília, realizado anualmente no local, e em eventos esparsos, agora o público comparece com mais fidelidade e frequência, sobretudo no fim de semana. O nacional “Boi Neon”, do pernambucano Gabriel Mascaro, por exemplo, atraiu mais de 2 mil pessoas no período em que ficou em cartaz.
Velhos e novos espectadores
“O Abraço da Serpente”, representante da Colômbia no Oscar, teve mais de 800 pessoas nas primeiras duas sessões, ainda em pré-estreia. Incensado pela indicação ao Oscar, “O Menino e o Mundo” foi o grande hit: mesmo passando às 11h da manhã, acumulou média de 200 pagantes durante três semanas e meia de exibição.
A boa programação se reflete no perfil do público. O jovem casal de namorados Rafael Zamarion e Lígia Gonçalves não ia ao Cine Brasília há algum tempo. Retornou atraído pelo burburinho em torno de “O Cavalo de Turim”, o desafiador filme do cultuado cineasta húngaro Béla Tarr. “É aberto, público e não precisamos ir ao shopping”, diz o estudante de engenharia elétrica na UnB. Lígia, aluna de arquivologia, elogia o “repertório diferente” do espaço.
Veja horários e salas de todos os filmes em cartaz
Filmes de arte e hits alternativos
Apesar de competir com Cine Cultura (Liberty Mall) e Espaço Itaú (CasaPark) no quesito programação alternativa, o espaço ganhou a confiança das distribuidoras independentes e consegue ter pelo menos três filmes em exibição por semana. Um dos responsáveis pelo renascer do Cine Brasília é Sérgio Moriconi, programador desde 2014.
Ano passado, Moriconi teve o trabalho de fazer o Cine Brasília aparecer para as distribuidoras de médio e pequeno porte, responsáveis por lançar filmes de festivais importantes (Cannes, Veneza, Berlim, Locarno) e trabalhos de arte no país. Em 2016, o bom relacionamento com selos como Imovision, Vitrine, Pandora e Supo Mungam rendeu a chegada de grandes filmes como “O Cavalo de Turim” e, ainda em 2015, de “Jauja”.
“Meu conceito para o Cine Brasília é mostrar filmes de qualidade, mas acessíveis para um público maior”, explica Moriconi. “Ao mesmo tempo, é função do espaço público passar um cinema difícil e ultra-cult. Como é público e não tem compromisso com bilheteria, é minha obrigação exibir coisas importantes para quem gosta de cinema”, analisa.
Com a reafirmação do Cine Brasília, Moriconi já sonha em dar um passo adiante no futuro. Espera que, nos próximos anos, o espaço tenha um bom café e bilheteria eletrônica. “O trabalho é fazer com que o cinema se torne relevante para a população. Tem muito brasiliense que nunca foi ao Cine Brasília”, diz o curador.
Próximos lançamentos do Cine Brasília (ainda sem data definida):
– “Norte, o Fim da História”. Filme filipino de 4 horas de duração, assinado por Lav Diaz
– “Sinfonia da Necrópole”. Musical de Juliana Rojas, codiretora de “Trabalhar Cansa”
– “Uma História de Loucura”. Novo filme de Robert Guédiguian, diretor de “As Neves do Kilimanjaro”
– “Os Desajustados”. Drama islandês sobre um adulto que ainda mora com a mãe
– “A Luneta do Tempo”. O aguardado faroeste do cantor Alceu Valença. Com Hermila Guedes e Irandhir Santos