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Cannes: “The Transfiguration”, de Michael O’Shea

Uma fantástica combinação de vários gêneros: terror e drama social, com pitadas de romance e amadurecimento.

atualizado

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Divulgação/Festival de Cannes
the transfiguration
1 de 1 the transfiguration - Foto: Divulgação/Festival de Cannes

Apesar de estarmos no meio de uma renascença zumbi, nenhum monstro foi tão explorado no cinema quanto o vampiro, provavelmente por unir impulsos sexuais e violentos em um só movimento: a penetração do pescoço por um dente afiado. É difícil, portanto, contar uma história de vampiros com algum indício de criatividade hoje em dia. Eis que “The Transfiguration”, do diretor estreante Michael O’Shea, surge para preencher este vazio.

O filme já começa explorando a conotação sexual/violenta do vampirismo. Um homem entra num banheiro público e ouve barulhos de sucção vindo de dentro de um dos boxes. Presumindo ser uma sessão de sexo oral, ele foge. Se soubesse que a parede do box esconde o jovem Milo (Eric Ruffin), de 14 anos, que está sugando o sangue do pescoço de uma vítima, ainda chamaria a polícia.

Milo não é um vampiro comum, ele anda no sol, mora sozinho com um irmão (Aaron Clifton Moten) num conjunto habitacional velho e dilapidado, e vai pra escola. Na verdade, ele não é vampiro coisa nenhuma, mas sim um adolescente que pretende seguir este estilo de vida, se alimentando de sangue e tudo o mais. Além disso, sua história se passa num universo de indiferença existencial, longe de qualquer clima de fantasia ou do sobrenatural.

Muito do que se passa com Milo deve ser mantido em surpresa, pois o roteiro vai explicando a falta de seus pais, o passado de seu irmão e seu fascínio por filmes de vampiro e vídeos de youtube que mostram mortes de animais. O que pode-se dizer anteriormente é que os planos vampirescos de Milo são revigorados pelo bullying pelos colegas da escola e pelos traficantes de seu prédio. Óbvio que ainda cabem outros diagnósticos, mas estes são revelados pouco a pouco.

Alguns de seus problemas podem melhorar quando a jovem Sophie (Chloe Levine) se muda pro apartamento do lado para cuidar do avô. Talvez por paixão, ela é a única pessoa que consegue se aproximar do jovem candidato a vampiro. Escondendo seu comportamento psicótico, Milo forja com ela uma amizade regada a muita conversa sobre filmes de vampiro. Milo chega a confessar que nunca viu a saga “Crepúsculo”, e nem tem interesse, pois para ele os filmes parecem “um tanto irreais”.

“The Transfiguration” também serve como uma carta de amor ao cinema de vampiro, especialmente quando percebemos que as ideias de Milo sobre os filmes que gosta são na verdade uma desculpa para o próprio diretor, que também assina o roteiro, a explicar o que ele mesmo pensa. Quanto mais “cult” o filme, mais ele é favorecido pelo pequeno protagonista–“Martin”, “Nosferatu”, “A Hora do Espanto” recebem várias menções.

Espectadores que tem dificuldade em apreciar essas referencias, porém, também terão dificuldades em gostar de Milo. Não se trata aqui de um filme de ação ou estritamente de terror, mas sim um drama existencial e por vezes social sobre um adolescente negro que pretende atacar a sociedade de uma maneira diferente daquela que vimos em tantos outros como esse.

Se trata aqui do mais realista retrato sobre o vampirismo já feito no cinema, principalmente pela decisão de negar qualquer aspecto sobrenatural da trama, e só por isso já merece ser visto. Perante o público cult, então, certamente é algo especial.

Avaliação: Excelente (5 estrelas)

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