Cannes: “The Red Turtle”, de Michael Dudok de Wit
Mais reflexão zen do que esforço narrativo, a primeira co-produção internacional do Estúdio Ghibli é uma fábula sobre a humanidade
atualizado
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Um homem é jogado de uma embarcação no meio do mar e sobrevive as águas até acabar numa ilha deserta. Uma rápida exploração do local revela que ele está sozinho, exceto pelos siris que o espionam diariamente. O homem então decide construir uma jangada e tentar a sorte no mar, mas logo que ele consegue passar dos primeiros obstáculos, seu barco é destruído por uma imensa tartaruga vermelha. Ele não desiste, mas volta para a ilha e constrói um novo barco. Só que mais determinado do que ele está sua inimiga, a tartaruga. Quando, depois de muita frustração, o homem a encontra descansando na areia, os dois tem um confronto que mudará a vida e as perspectivas dele.
“The Red Turtle” carrega muita bagagem além da sua tela. Nova produção do lendário Estúdio Ghibli, aparece logo no momento em que um dos mais famosos diretores de animação, Hayao Miyazaki, se aposenta. Não se trata aqui de seu último trabalho, que já estreou nas telas, mas sim do novo filme de Michael Dudok de Wit, holandês ganhador do Oscar (em 2000, pelo curta-metragem animado “Father and Daughter”). A ocasião marca a primeira produção estrangeira de um estúdio que sempre manteve suas produções nas mãos de japoneses. Provavelmente pela saída de cena de seu diretor mais conhecido.
O filme não é para aqueles que se entediam facilmente. Com meros 80 minutos, o filme entra naquela misteriosa zona temporal aonde o que era pra passar rápido acaba durando uma eternidade. Além disso, trata-se de um filme mudo, aonde nenhuma palavra é dita. A história até tem um desenrolar, quando, na ilha, o homem conhece uma mulher, e com ela tem um filho. A família se consolida, o menino cresce e o tempo passa. No fim das contas, trata-se aqui de uma fábula que contempla a própria existência humana–seu começo, seu fim e seus momentos de solidão.
Enquanto a narrativa é fraca, “The Red Turtle” tem duas coisas fantásticas: a beleza de sua animação e a visceralidade de sua trilha sonora. O filme demorou uma década para ser feito, e vemos todo esse cuidado na tela. Ao combinar técnicas de animação 2D com a fluidez da computação gráfica, cada frame de imagem poderia ser pendurado como um quadro.
A trilha ainda foi o suficiente para comover vários críticos às lágrimas, mas a falta de energia narrativa ainda manteve outros, como eu, um pouco distante demais para uma reação emocional. O filme funciona muito bem como uma meditação de sua estética visual e sonora, mas pouco como uma história épica.
Avaliação: Bom (3 estrelas)