Cannes: “The Last Face”, de Sean Penn
O filme do diretor norte-americano é tão ruim que virará lenda em Cannes
atualizado
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Dois tipos de filmes viram lendas em Cannes: os aplaudidos e os vaiados. Alguns diretores vaiados, como o dinamarquês Nicolas Winding-Refn, tiram de letra, afirmando que fazem um cinema provocador, desencarregado de agradar a todos. Outros, porém, não tem nenhuma controvérsia ou provocação em seus filmes para usarem como blindagem. Esse é o caso de “The Last Face”, filme mais recente do ator e diretor Sean Penn.
Fazer um filme ruim já causa chacota–fazer um filme ruim travestido em um manto pretensioso de relevancia social é pior ainda. Aqui, Javier Bardem e Charlize Theron vivem diretores de uma ONG que presta serviços médicos em zonas africanas de conflito. Durante uns dez anos, Wren Petersen (Theron) e Miguel Leon (Bardem) se apaixonam e se desapaixonam, vivendo intensas crises emocionais, enquanto corpos negros são violentados e retalhados em torno deles. Para quem curte metáforas, Wren é um tipo de pássaro (uma alma livre!) e Leon quer dizer “leão” em espanhol.
Penn está envolvido em causas humanitárias há décadas, e constantemente se atrapalha nelas também, elogiando e fazendo propaganda para personagens brutais como Hugo Chavez. Constantemente divagando sobre si mesmo em um infame artigo sobre o traficante mexicano El Chapo, ele passa alguns parágrafos falando sobre o próprio pênis. Difícil não imaginar que o pseudo-guerreiro-social não tenha nutrido um grande número de ereções ao filmar cenas em que seus personagens falam coisas como “Antes de conhecer Miguel eu era apenas uma ideia de mim mesma, eu não existia realmente” ou “salvar vidas é uma missão muito importante!”. Os mais de 2 mil membros de imprensa presentes na sessão, não conseguiam conter as bufadas e as risadas.
A parte mais ofensiva desta masturbação egocentrica é que ela relega as pessoas com as quais ela diz se preocupar a um segundo plano. Num filme ambientado na África, e sobre conflitos africanos, todos os personagens principais são brancos. Pior ainda, os conflitos e o sofrimento africano são um mero cenário para a expressão da dificuldade que dois personagens europeus tem em viver suas emoções. Africanos estão morrendo enquanto Wren e Miguel debatem se vale a pena arriscar um romance.
“The Last Face” começa com uma palestra: Wren está diante de um salão lotado de milionários para pedir dinheiro para uma causa. No final do filme, voltamos a essa sala e ouvimos o discurso, aonde ela pede que os milionários enxerguem vítimas e refugiados de conflitos africanos como pessoas, com vidas e sonhos. Pena que o próprio Penn, em uma nuvem de hipocrisia, não consegue fazer isso em seu próprio filme.
Avaliação: Horrível (Zero Estrelas)