Cannes: “The BFG”, de Steven Spielberg
Com o melhor e o pior da computação gráfica, o filme é lento e inconsequente, desperdiçando a boa vontade.
atualizado
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A computação gráfica é uma faca de dois gumes para o cinema de hoje. Por um lado, torna possível a realização de qualquer coisa que se possa imaginar. E por outro, deixa a identidade visual do filme completamente asséptica e homogenizada. “The BFG”, novo blockbuster de Steven Spielberg tem o melhor e o pior dessa tecnologia, só que, longo demais, desperdiça a boa vontade.
Numa Inglaterra atemporal, a jovem órfã Sophie (Ruby Barnhill) flagra um gigante, lá da janela do orfanato, um gigante passeando e se escondendo pelas ruas de Londres. Assustado, o “Bom Gigante Amigo” (BFG) rapta a pequena e à leva ao seu país natal, uma espécie de terra dos gigantes. Estes, descobrimos, raptam humanos para aproveitá-los em suas refeições, mas para sorte de Sophie, seu BFG (Mark Rylance) é vegetariano. Passado o rapto, estas duas almas solitárias formam uma amizade um tanto incomum.
Esta sequencia inicial é divertida, imaginativa e horripilante: um mexidão de toda a expertise de Spielberg quando conta uma história para o público infantil. O roteiro, porém, parece não se decidir sobre qual história quer contar. Para um filme que se projeta como uma grande aventura, falta a aventura. Ou pelo menos o senso dela. Mesmo o conflito entre BFG e os outros gigantes, exemplo clássico de bullying, poderia servir para isso, mas é descartado de maneira banal e usado mais para aproximar os dois protagonistas como outsiders do que para guiar a história. A sequencia final, completamente inusitada e feliz, também é divertida. Assim como o começo, também se passa em Londres. O problema parece ser a falta do que fazer na terra dos gigantes.
Muito se dirá sobre a performance de Mark Rylance, como o gigante. Vencedor do Oscar de ator coadjuvante em 2016 com “Ponte dos Espiões” (também de Spielberg), o veterano dos palcos britânicos já foi contratado para uma terceira película com o diretor pop. Quem o viu naquele primeiro filme talvez não o reconheça neste segundo, e não é por causa das camadas de computação gráfica que o transformaram no gigante, mas sim porque ele faz aqui um personagem completamente diferente do anterior, em tudo. Não é qualquer ator que consegue. É bem mais frequente que atores demonstrem os mesmos cacoetes, as mesmas intonações e expressões em todos os seus papéis. O BFG, interpretado por Rylance, é a melhor criação CGI desde Gollum, de “O Senhor dos Anéis”.
É interessante refletir sobre o primeiro blockbuster de Spielberg, “Tubarão”. Limitado por um tubarão-robô que pifava todo dia, Spielberg conseguiu abusar da criatividade fotográfica e narrativa para montar um clássico do suspense. Aqui em “The BFG” ele tem uma criatura que funciona perfeitamente, mas uma narrativa com um miolo completamente pifado.
Avaliação: Regular (2 estrelas)