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Cannes: “(M)uchenik”, de Kirill Serebrennikov

Excelente parábola sobre o fanatismo nos tempos atuais, o filme é forte e destemido.

atualizado

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Divulgação/Festival de Cannes
Uchenik
1 de 1 Uchenik - Foto: Divulgação/Festival de Cannes

Começamos na escola, numa aula de natação entre os alunos. Meninos e meninas, todos adolescentes, vestidos de biquinis e sungas, pulando e pedalando na água. Por si só, mesmo sem palavras, isso já seria um ensaio complicado sobre a sexualidade juvenil. Mas, lá no canto, está Veniamin (Pyotr Skvortsov), todo vestido de preto, relutante em pular na piscina. Os amigos o caçoam e os professores os obrigam a entrar na água, e assim dão partida à uma parábola sobre o fanatismo religioso nos tempos de hoje.

Após o episódio da piscina, Veniamin resolve se debruçar na Bíblia e memorizar seus ensinamentos. Resolve virar ortodoxo e seguir tudo ao pé da letra. Mas não em silêncio, pois ele cria uma cruzada para salvar seus colegas e sua escola, que correm forte risco de serem engolidos pelas forças do mal. Sua maior oponente será a professora Elena (Victoria Isakova), que não consegue abandonar seus princípios sobre a razão para entrar no fervor de Veniamin.

Ao mesmo tempo em que critica a religião (toda vez que Veniamin cria algum argumento fanático, a passagem bíblica a que ele se refere aparece na tela) o filme mostra a facilidade com a qual este discípulo consegue converter os outros para o seu ponto de vista. Ele consegue que a diretora principal exija o uso de maiôs em vez de biquinis e censure o ensino sobre métodos anticoncepcionais modernos nas aulas de humanas não por transformar os outros também em discípulos, mas sim por obrigá-los a entender que discordar com ele é discutir com a palavra de Deus, e pra isso, ninguém quer colocar a cara a tapa.

Em tempos de fanatismo religioso pelo mundo todo, “(M)uchenik)” é destemido e forte. Abrange temas pertinentes não só a adolescência, como também a Rússia atual, que cai cada vez mais em um facismo sem alardes. Nesse caso, Putin seria o discípulo e a União Soviética sua religião. Mas Serebrennikov se mantém fiel ao seus personagens e suas realidades. Morando com a mãe, Veniamin a culpa pela deserção paterna. Seu colega Grigoriy (Aleksandr Gorchilin) o segue mais por uma paixão não dita do que pelo seu ponto de vista. Manco, ele pede que Veniamin cure a sua perna (os resultados são hilários).

A professora Elena também começa a estudar a Bíblia de cabo a rabo, porém para travar uma grande batalha com o seu aluno. Obcecada, acaba sofrendo no casamento e perante o resto dos professores. Embora certa, ela começa a perder suas batalhas, pois numa briga de fanáticos, um religioso e a outra anti-religião, é mais seguro concordar com o primeiro. Senão fica feio. Mesmo com um protagonista que é, na realidade, o vilão da obra, a heroína tem um destino final um pouco incongruente com o que veio antes.

Avaliação: Ótimo (4 estrelas)

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