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Cannes: “Ma Rosa”, de Brillante Mendoza

A Europa parece ter aprendido bastante com o neo-realismo italiano, montando várias políticas de assistência social durante o século 20. Agora, com esse neo-realismo filipino, talvez seja a vez de países menos desenvolvidos.

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Festival de Cannes/Divulgação
Ma Rosa
1 de 1 Ma Rosa - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

A matriarca da família Rosa (Jaclyn Jose), dona de uma barraca de feira, tem de vender drogas para ajudar a pagar as contas, e quando a polícia prende ela e seu marido, a única solução é os filhos arrecadarem dinheiro para pagar o suborno que os policiais estão cobrando. A premissa é simples, mas o diretor filipino Brillante Mendoza a seca ainda mais. Adotando uma estética documental para um filme de ficção, “Ma Rosa” destaca a feiura e a infelicidade da pobreza e das decisões difíceis que ela impõe.

Neste filme, a vida marginal de subterfúgio é desprovida de romance. É nua, crua e dura, portanto podemos até dizer que seu filme age como um contraponto aos filmes de outros auteurs que também focam em personagens que sofrem com a falta de recursos, como os irmãos Dardenne, que estrearam seu novo filme, “La Fille Inconnue”, neste mesmo festival, neste mesmo dia!

Em vários outros, os personagens sofrem com a pobreza. Porém, dentro dela, lutam para conseguir algum tipo de auto-afirmação e realização. Sacrificam o próprio bem-estar para prover uma vida melhor aos que amam. Aqui não há nada disso. Ma Rosa, seu marido Nestor (Julio Diaz) e seus quatro filhos são todos coletados pela polícia local enquanto vendiam drogas dos fundos da loja da família. Sem muita frescura, os policiais pedem um dinheiro de fiança (que na verdade seria um suborno) para soltá-los. Como ninguém tem recurso nenhum, os filhos são soltos para arrecadarem os fundos necessários para soltar os pais.

Sobrevivência é o objetivo principal, e isso vale o preço que for. Mas enquanto estamos acostumados com histórias onde o crime rende dinheiro e deslumbramento, pelo menos no início, “Ma Rosa” não tem nada disso. Nem o dinheiro que a família consegue com essa segunda profissão serve pra nada além de fazê-los sobreviver. Em certo momento vemos o traficante que está um nível acima da família. Também é um pobre coitado. Até os policiais são desgraçados, completamente desprovidos de condições de trabalho ou de salários bons.

Uma Desgraça que se Mantém
A pobreza e a miséria são condições que se perpetuam, arrastando todos nela envolvidos para baixo. Dela não há escapatória. Em contraponto, existe aqui também uma parábola familiar. Enquanto soltos, a família não para de brigar e se hostilizar. Com os pais presos, os filhos sacrificam corpo e alma para conseguir livrá-los.

Mesmo assim, no meio da confusão, “Ma Rosa” demora a andar. A trama, propriamente dita, só engrena com trinta minutos de filme, e assim, a maioria dos espectadores passará um bom tempo confuso com o que acontece. Muitos desistirão. É por este começo meio indefinido que o filme perde pontos.

A Europa parece ter aprendido bastante com o neo-realismo italiano, montando várias políticas de assistência social durante o século 20. Agora, com esse neo-realismo filipino, talvez seja a vez de países menos desenvolvidos. Por isso que assistir “Ma Rosa” no mesmo dia de uma obra dos Dardennes tem um efeito tão peculiar.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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