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Cannes: “Ma Loute”, de Bruno Dumont

Mistura de policial com romance proibido, o renomado diretor francês Bruno Dumont tenta unir estes elementos em uma fábula sem sentido.

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Divulgação/Festival de Cannes
Ma Loute
1 de 1 Ma Loute - Foto: Divulgação/Festival de Cannes

No norte da França, em uma cidade de praia populada por grã-finos de férias e por famílias pobres de pescadores nos anos 1910, dois investigadores estão atrás de pistas no desaparecimento de várias pessoas. Passamos a maior parte do tempo com duas famílias, os Van Peteghems, burgueses tolos e incestuosos, e os Bréforts, coletadores de ostras. Um dia, brota um romance entre Ma Loute, da família pobre, e Billie, da família rica. Assim, o renomado diretor francês Bruno Dumont tenta unir os elementos em uma fábula sem sentido.

Eu sei que “Ma Loute” se passa no norte do país, mas não consigo deixar de pensar em um prato provençal do sul, o famoso “Bouillabaisse”. Assim como a feijoada, o bouillabaisse começou como um ensopado feito por mercantes, composta das partes de animais que não tinham valor de venda, no caso francês, frutos do mar. Dumont parece ter juntado ingredientes como comédia negra, crítica social, humor absurdo, batalha de classes e amores proibidos com atores consagrados e iniciantes na esperança de fazer um grande prato. A receita, porém, ficou bem aquém de seus ingredientes.

É de se imaginar que a grande Juliette Binoche, um tesouro local, é capaz de melhorar qualquer filme, mas seu personagem aqui é tão ridículo e exagerado que quase dá vergonha. Valeria Bruni-Tedeschi, também muito bem conhecida, se perde no meio de vestidos e chapéus esvoaçantes. Ainda resta Fabrice Luchini como o patriarca corcunda (contece que a família de classe alta é pitorescamente incestuosa, e assim tem uma longa lista de defeitos congênitos).

O mistério é logo resolvido para o espectador, pois antes ainda do término da primeira hora, vemos a família Brufort mastigando braços e pernas provenientes de um grande caldeirão (o ensopado original da trama), mas nunca para os policiais. Sem nada pra fazer no roteiro, o policial gordo acaba inflando como um balão e flutuando pelo ar. Existem mestres do surrealismo, que não explicam tudo, mas pelo menos conservam o senso de narrativa pelo seu trabalho. Você pode não entender o que está acontecendo, mas sabe que existe algo ali para ser compreendido. Em “Ma Loute”, não resta nada.

Chega a nem fazer sentido como filme. Apesar de uma premissa e um cenário interessantes, os personagens não agem por motivações discerníveis. O elenco de estrelas parece ter sido instruído a incorporarem o exagero e a caricatura como modo de trabalhar. Um completo desperdício.

Avaliação: Ruim (1 estrela)

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