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Cannes: “La Larga Noche de Francisco Sanctis”, de Francisco Testa

Uma premissa interessantíssima inicia o filme, mas um final sem rumo o impede de tomar riscos.

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Festival de Cannes/Divulgação
larga noche
1 de 1 larga noche - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Francisco Sanctis (Diego Velazquez) é um argentino apolítico, vivendo uma vida tranquila e urbana com a esposa e dois filhos pequenos num país que acaba de sofrer um golpe militar. Para ele, tudo continua normal. O café da manhã serve para compartilhar com a família que ele está prestes a receber uma promoção no trabalho. Sua esposa faz aquela cara de quem já ouviu isto antes e ela não está errada. Em vez da aguardada promoção, Sanctis recebe uma caixinha com produtos de supermercado. Anos de chumbo, com certeza.

Pouco depois, Sanctis recebe uma ligação de Elena (Valeria Lois), um caso dos tempos de faculdade que precisa de sua ajuda. Ela finge estar interessada num poema meio comunista que ele escreveu na faculdade mas na verdade quer envolvê-lo numa trama da resistência à ditadura. Elena tem dois companheiros que estão prestes a serem capturados pela polícia, e ela quer que Francisco vá até a casa deles e os avise. Como Elena já está visada pela polícia, ela precisa salvar os amigos com alguém acima de qualquer suspeita.

O filme é o mais curto que assisti em Cannes (tem meros 78 minutos), e isso tudo já ocorre bem no comecinho.O resto do filme retrata a paranoia crescente de Sanctis enquanto este perambula por Buenos Aires, debatendo se ajuda ou não a ex-companheira. A coisa mais fácil seria continuar sendo apolítico e não ajudar, o que implicaria na morte de duas pessoas. Por outro lado, se ele os ajudar, Sanctis corre o risco de ser preso no ato. Há ainda que se considerar que ele não os conhece e que, caso escolha salvá-los, ele incorra responsabilidade moral sobre os futuros atos da dupla.

À medida em que o tempo vai passando a paranóia vai crescendo, e os diretores estreantes conseguem usar som, fotografia e montagem para traduzir o stress de Sanctis em cinema. Pessoas na rua agora podem ser agentes de repressão disfarçados, pedestres o acompanhando podem estar a um momento de encapuzá-lo e o sequestrarem… a preocupação não tem limites. E a noite vai passando.

Colocar um homem comum, que na infância foi mais idealista e hoje tem responsabilidades de adulto, para enfrentar esta situação é uma premissa genial para um filme argentino, visto que expande seu apelo pessoal. Sanctis não precisa ser argentino, ele poderia ser qualquer um de nós, tendo que refletir sobre nossos valores quando jovens e nossa acomodação adulta. (A falta de promoção no trabalho indica que Sanctis nem é valorizado por sua sociedade, enquanto a atividade clandestina lhe dá uma chance de fazer algo que tenha consequencias.) O problema é que, no fim das contas, nem o próprio roteiro sabe que final dar pra isso tudo.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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