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Cannes: “Juste la Fin du Monde”, de Xavier Dolan

Apesar de ser facilmente reconhecível como um filme de Dolan, este é quase um filme de estudante, tamanha a grosseria e indelicadeza de seu roteiro e sua técnica.

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Festival de Cannes/Divulgação
juste la fin du monde
1 de 1 juste la fin du monde - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Após uma ausência de 12 anos, o designer de moda Louis (Gaspard Ulliel) retorna à casa da mãe para contar à família que está morrendo de AIDS. Lá o aguardam a mãe (Nathalie Baye), uma irmã (Léa Seydoux), um irmão (Vincent Cassel) e a cunhada (Marion Cotillard), ansiosos e apreensivos de reencontrá-lo. Ler o nome de Dolan, diretor de outros 4 filmes que estrearam em festivais passados e que é conhecido por dramas emocionais e viscerais, juntamente com este elenco é acreditar que algo incrível está para ser visto. Porém, “Juste La Fin du Monde”, apesar de ser facilmente reconhecível como um filme de Dolain, é quase um filme de estudante, tamanha a grosseria e indelicadeza de seu roteiro e sua técnica.

O reencontro de uma família disfuncional é um tema clássico e antigo tanto da literatura quanto do cinema. “Todas as famílias felizes se parecem; cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, já escreveu Tolstói. E a família mostrada aqui é infeliz de uma maneira insuportável. O problema já começa com Louis, o protagonista, interpretado por um ator que está bem abaixo do nível exigido por um filme deste. A tristeza e a dor que ele carrega por dentro é demonstrada de maneiras enfadonhas e pretensiosas. O rosto impávido não expressa nada, não esconde nada, não interessa em nada. Ele tenta interpretar um rapaz sensível e angustiado da pior maneira possível, que não combina em nada com o estilo de Dolan, sempre aproximando a câmera ao máximo dos rostos de seus atores, a fim de forçar uma intimidade desconfortável entre eles e o espectador.

O diretor com certeza vê Louis em termos autobiográficos, uma expressão da dor que ele também teve de enfrentar sozinho enquanto crescia no Canadá. Mas enquanto a expressão destes sentimentos significam muito pra ele, ela não quer dizer nada para quem está fora de sua psyche. São os mesmos temas que ele já trabalhou em outros filmes, mas desta vez de uma maneira muito forçada. É como o primeiro filme de um diretor, em que ele tenta ser o mais “interessante” possível, e não a linguagem de quem já tem vários filmes completos e está caminhando rumo à maturidade. Acaba sendo meramente pretensioso.

Os outros atores são excelentes, mas o material não os ajuda muito. Impenetráveis, parecem querer distrair Louis de toda a maneira, a fim de postergar a revelação da má notícia. Rapidamente, todos se tornam insuportáveis. O único diálogo de destaque vem de Vincent Cassel, dentro de um carro junto com seu irmão Louis. Sua agressividade e suas falas soaram como música para os ouvidos deste crítico, pois serviam como uma metáfora de tudo que este filme tem de errado. Pena que, mesmo deste ponto, o roteiro não o ouça.

Pretensioso e depressivo ao extremo, está mais para um filme de estudante do que o de um menino prodígio.

Avaliação: Ruim (1 estrela)

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