Cannes: “Gimme Danger”, de Jim Jarmusch

Jim Jarmusch é um fora-da-lei e ao mesmo tempo um convidado do xerife. Outsider E insider, navega na marginalidade de Hollywood ao mesmo tempo em que é melhor amigo de Johnny Depp e outros artistas famosos. Funciona como cineasta indie, mas também é realeza em Cannes há décadas. Nada parecia mais perfeito para sua estreia no gênero de documentário do que Iggy Pop, vocalista de The Stooges, banda que estourou no mundo inteiro no final da década de 60.

Pop e Jarmusch são amigos há décadas, mas quem espera algum tipo de filme autoral, ou algum insight narrativo de um diretor que conviveu com seu sujeito, ficará decepcionado. “Gimme Danger” peca pela falta de intimidade. Poderia ser feito por qualquer um e, pior ainda, estaria muito bem passando na televisão, após o jornal das 10. E isso é arrasador para quem conhece qualquer uma das personalidades por trás deste projeto.

Como explicar a insanidade punk de uma figura como Iggy Pop? Frequentemente nu no palco, as vezes usando uma coleira de cachorro e ainda com frequentes rumores de uma conexão sexual com David Bowie (tudo muito bem explorado por Todd Haynes em “Velvet Goldmine”), sua música influencia até hoje. Com acesso ao próprio cantor, “Gimme Danger” conta a história dos primórdios da banda e ainda entrevista outros que conviveram com ela e que explicam a importância de seu som. E só. É simplesmente inexplicável que daí surge um documentário tão sem-graça.

Jarmusch já tem um filme ficcional concorrendo à Palma de Ouro nesta edição, “Paterson”. No filme, o protagonista é fã do poeta americano William Carlos Williams e sua poesia permeia a atmosfera. Apesar de não ser documentário ou de não ter ninguém interpretando este artista, é um filme muito melhor sobre Williams do que “Gimme Danger” é sobre Iggy Pop.

Avaliação: Ruim (1 estrela)