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Cannes: “Captain Fantastic”, de Matt Ross

É um filme sobre ideias e ideologias que, no final das contas, reconhece que o ideal nunca está nas extremidades, mas sim no centro. Imprescindível.

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Divulgação/Festival de Cannes
captain fantastic
1 de 1 captain fantastic - Foto: Divulgação/Festival de Cannes

Se algum dia um estúdio chamasse Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis) para fazer um filme de super-herói, ele só toparia algo como “Captain Fantastic”, aonde ele interpreta um pai de família com seis filhos. Por decisão dele e da mulher, todos moram na natureza selvagem—em cabanas e barracas num terreno de floresta. Os dias se passam treinando defesa pessoal, caçando e preparando comida e com aulas de física quântica e literatura.

Mas o filme começa já com a ausência da mãe, o que é um tanto estranho. Eis que, numa visita a um visita para troca de ítens artesanais por mantimentos, o patriarca Ben recebe uma mensagem que sua esposa acaba de falecer no hospital. Assim, a família tem de voltar à civilização e confrontar os pais e a irmã conservadora dela durante o enterro.

Matt Ross, mais conhecido como ator, escreveu um roteiro impressionante. Vencedor de prêmios em Sundance, chegou em Cannes com grande expectativas e estreou com sucesso. Não foi à toa. O roteiro joga todo tipo de coisa na história e em momento algum perde a mão: mesmo sendo por vezes road movie, guia de sobrevivência, drama familiar, tratado filosófico ou comédia, todos os personagens da família tem suas próprias motivações e momentos importantes na trama.

Muito se discutirá, óbvio, o modo com o qual Ben cria seus filhos. O filme abre com uma cena de caça, onde o filho mais velho captura e degola um veado, numa espécie de rito de passagem de amadurecimento masculino. Decidido a nunca mentir ao seis filhos e a tratá-los como adultos, ele convoca uma reunião familiar para dizer: “Sua mãe morreu.” Eles ficam aos prantos.

Durante a viagem ao enterro, encontros entre a família e pessoas “normais” causam bastante autossatisfação, visto que as crianças da cidade não largam os celulares e os videogames, não leem e não conhecem história geral ou filosofia. O trunfo do filme é não se satisfazer só nisso, mas sim em mostrar que a questão é complexa. Pois enquanto suas crianças conseguem interpretar a constituição, ler Noam Chomsky e cozinhar a própria comida, eles patinam quando precisam interagir socialmente ou se virarem no mundo civilizado.

Uma presença que rouba a cena é Jack (Frank Langella), pai da finada matriarca que odeia Ben com todas as forças. No começo uma mera caricatura de um vilão capitalista, Jack vai ganhando razão até chegar no ponto em que Ben decide reavaliar as decisões de sua vida. Apesar do filme não explicitar que enquanto Ben e a mulher pregavam a liberdade dos filhos, eram eles dois que decidiam o que os filhos podiam ou não fazer. Ben nunca imaginou que algum dos filhos quisesse algo diferente do que ele próprio escolheu para eles.

É um filme sobre ideias e ideologias que, no final das contas, reconhece que o ideal nunca está nas extremidades, mas sim no centro. Imprescindível para o mundo de hoje.

Avaliação: Excelente (5 estrelas)

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