Brasília já vive um eterno Carnaval: pernas de pau e uma orquestra formam o Bloco do Calango Careta
Trupe reúne 50 integrantes e ensaia em cartões postais da cidade, como o Museu Nacional da República, a Catedral e a Biblioteca Nacional
atualizado
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Um ruído diferente chama a atenção de quem passa em frente à Biblioteca Nacional às segundas e quintas à noite. Nem buzina, nem ronco de motores. O som que vem dali é muito mais amigável.
Batuques de instrumentos de uma fanfarra chamam a atenção de quem espia o que acontece no coração de Brasília. É a Orquestra Camaleônica do Bloco Calango Careta que está em ação. Nela, cerca de 50 músicos se concentram para fazer com que Brasília viva um eterno Carnaval.
A iniciativa promove a união de uma turma que resolveu fazer a folia brasiliense ganhar força o ano todo. Depois das bem-sucedidas inserções dos blocos Aparelhinho e Babydoll de Nylon no Carnaval da cidade, surge o Calango Careta para garantir mais um dia de farra aos foliões da capital.
Mão na massa
No fim de 2014, o bloco começou a ganhar forma pelas mãos de Marcio Ramos, Felipe Lucena, Toscanini Heitor, Allan Pontes e Daniel Titis. Do campo das ideias para a realidade foi um pulo. Em três semanas, os amigos reuniram mais alguns entusiastas e criaram o mascote da troça, um calango de aproximadamente 20 metros. Neste processo foram gastos uma boa quantidade de silver tape, muito jornal, cola e suor. No final, a intenção era “invadir” prévias do Carnaval e blocos que já tomavam as ruas.
Um dos momentos mais marcantes desse início aconteceu quando a trupe se encontrou com a Orquestra Voadora (importante nome do circuito de blocos do Rio de Janeiro) durante o Encontro Nacional de Orquestras Populares, no CCBB, em fevereiro. “Fomos chamados para subir ao palco e ficamos em êxtase. Foi muito emocionante. A Orquestra Voadora é uma referencia para nós”, lembra Marcio Ramos, um dos cabeças do projeto.
Com a certeza de que aquela “brincadeira” agora estava mais séria, o bloco estreou no Carnaval brasiliense em 2015, na comercial da 408 Norte, no último dia de folia, reunindo aproximadamente 3 mil pessoas. Até quem não sabia do que se tratava se juntou à celebração e curtiu o bloco que ainda engatinhava.
O próximo passo surgiu naturalmente, com a ideia de montar uma orquestra para fazer as honras da casa. Desde junho, músicos iniciantes e profissionais têm se reunido em frente à Academia de Música de Brasília, parceira do projeto, e em cartões postais da cidade para entoar sucessos carnavalescos e músicas de Jorge Ben Jor, Nação Zumbi, Luiz Caldas e Wando. Assim, a Catedral, o Museu Nacional e a Biblioteca Nacional emprestam os seus traços para ambientar animadas noites de ensaios dessa turma que toca fantasiada.
“Carnaval tem que ter orquestra e fantasia. Sem esses dois elementos não é a mesma coisa”, brinca Ramos, que conta ter se inspirado no bloco pernambucano Eu Acho é Pouco para compor a versão brasiliense. “Todos nós já curtimos muito a folia de Olinda e a do Rio. “Trouxemos um pouco de tudo que já vimos nesses lugares para cá”, conta o músico e economista de 28 anos.
A mais recente investida da trupe foi no circo. Às quintas, o grupo tem promovido oficinas de perna de pau embaixo da marquise da Biblioteca Nacional.
Para os integrantes do bloco, ocupar os espaços públicos brasilienses não é só aproveitar a beleza desses locais como cenário. É viver Brasília intensamente e fazer pulsar a cidade que tem tanto a oferecer. Para isso, os idealizadores do Calango Careta têm outras bandeiras: discutir a polêmica Lei do Silêncio e valorizar personalidades da cidade, como Tararau, o simpático rapaz que vende incenso nos bares do Plano Piloto.
A tempo: a Orquestra Camaleônica está em busca de músicos que toquem instrumentos de sopro para compor o time. Para saber detalhes da agenda do grupo acesse a página oficial do Calango Careta no Facebook.