A arte urbana do grafite cresce e se torna marca do Distrito Federal
No centro da capital e regiões administrativas, artistas de rua colocam sua marca e interagem com a cidade dando um colorido ao concreto
atualizado
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Brasília, em seus 56 anos, é uma cidade jovem que está descobrindo a própria cultura. Neste processo, além da música, bares, gírias, vida noturna, está a forma como a população se vê e interage com os espaços urbanos. Dessa relação, surgem os grafites, ferramentas de apropriação do ambiente cada vez mais presente no cotidiano do Distrito Federal.
Popular entre os jovens, os desenhos feitos com spray nas paredes faz parte do universo do hip-hop, onde a arte urbana se divide em música (rap e DJs), dança (break) e artes visuais (grafite). No Distrito Federal, o movimento se iniciou em 1980 e hoje mais de 200 artistas espalham suas obras pelos muros e paredes da capital.Para Ju Borgê, grafiteira há 12 anos, a arte é mais do que uma forma de expressão, é uma maneira de comunicação. “Pintar as ruas é uma representação do amor. Eu quero levar uma mensagem boa com o meu trabalho, quero que as pessoas se sintam bem, que elas interajam com a obra de uma forma positiva”, diz.
Essa interação das pessoas com as obras da própria cidade, em prédios, viadutos, paredes e avenidas grafitadas, dá sentido à vida urbana. Segundo Pedro Russi, professor de Comunicação Social da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em ações urbanas, a cidade só existe a partir da troca entre pessoas e ambiente.
A pichação e o grafite são interações, assim como o ônibus e as pessoas andando na rua. Por uma questão moral, de higienização e limpeza, não são bem-vistos na sociedade
Pedro Russi
Por ser Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido pela Unesco, alguns artistas sentem dificuldades em criar no centro de Brasília. O grafiteiro pernambucano Guga Baygon, artista de rua desde a década de 1990, começou a pintar na capital federal em 2004. “Aqui é muito difícil, não tem tanta parede e é tombada, o que dificulta o trabalho. Mas a gente interage da forma que pode e aprende a entender a cidade. A população passou a aceitar melhor o nosso trabalho”, diz Baygon.
No Conic, o Centro Cultural Renato Russo, W3 Sul, o Setor Comercial Sul as passarelas subterrâneas do Eixo Norte é possível encontrar diversas intervenções.
As dificuldades em se grafitar no Plano Piloto “empurram” os artistas para as regiões administrativas. Ju Borgê analisa que pintar por lá é mais confortável. “O Plano Piloto não é tão receptivo”. Daniel Toys, 25 anos, um dos nomes de destaque no grafite da capital, pensa parecido.
“A arte de rua tem como obrigação se comunicar com a cidade e sua população. Por isso levamos o material para as regiões administrativas. É uma aproximação com pessoas que teriam dificuldade em se aprofundar nisso”, opina.