Servidores da Sejus são convocados para ação da igreja de Sandra Faraj
Por meio de grupos no Whatsapp, contratados da secretaria cobravam até pagamento de camiseta para evento do Ministério da Fé
atualizado
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A deputada Sandra Faraj (SD) ainda não conseguiu explicar uma crise que a atingiu em cheio e pode entrar em outra. Prints de grupos de WhatsApp mostram a cooptação de servidores da Secretaria de Justiça e Cidadania, do Governo do Distrito Federal, para participar de um evento da Igreja Ministério da Fé, denominado Sim para a Família. O coordenador do grupo e funcionário nomeado por indicação da parlamentar convoca todos os empregados da Sejus para trabalharem em um sábado na ação da pastora e distrital.
Além disso, George Ramon Santos, lotado na Subsecretaria de Políticas para Justiça, Cidadania e Prevenção ao Uso de Drogas, ainda diz que é “chato cobrar”, mas que precisa arrecadar o valor de R$ 20 de cada funcionário para a camiseta do Sim para a Família.
Em outra mensagem, o secretário de Justiça e Cidadania, Marcelo Coelho de Lima, faz uma nova convocação. Desta vez, para que os funcionários compareçam à eleição do partido (Solidariedade) para votar no apóstolo da igreja, que disputava a presidência.
O apóstolo seria o irmão de Sandra, Fadi Faraj, que concorreu, em agosto de 2016, às eleições para a presidência local do Solidariedade. O pleito não foi considerado válido pela Justiça e Augusto Carvalho (SD) se manteve no comando da sigla. No grupo de WhatsApp com 125 membros, denominado GP Sandra Faraj, Marcelo frisa que a “participação da equipe da Sejus é obrigatória”.
A relação dos funcionários com a pastora Sandra Faraj tem um motivo: eles são indicação da distrital dentro do governo. Segundo fontes próximas à parlamentar, Sandra tem cerca de 400 cargos na Secretaria de Justiça, na Administração de Taguatinga e no próprio gabinete na CLDF.
As mensagens de WhatsApp, às quais o Metrópoles teve acesso, foram trocadas no segundo semestre do ano passado. Para o cientista político Lucas de Sá, da Parlamento Consultoria, ficam evidentes as irregularidades na conduta tanto do secretário quanto dos servidores da Sejus.
A deputada Sandra Faraj não inaugura esse tipo de política no DF. No entanto, fica claro o uso da máquina pública em favor do poder político particular. Esse tipo de conduta pode até configurar um peculato (crime cometido contra a administração pública), se comprovada a relação.
Lucas de Sá, cientista político
Mesmo se as ações fossem da secretaria, seria necessária uma escala para os funcionários trabalharem no sábado. Além disso, servidor nomeado em cargo público não pode ser “obrigado” a contribuir com ações religiosas, muito menos comprar camisetas para ajudar nas ações de parlamentares.
O Estado, inclusive, é laico. De acordo com a Constituição Brasileira, “é vedado à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”.
Por meio de nota, a Secretaria de Justiça informou que “os episódios relatados estão sob apuração e não comentará o caso até a conclusão das análises”. A assessoria da parlamentar não respondeu às demandas da reportagem até a última atualização desta matéria. O apóstolo Fadi Faraj foi procurado diversas vezes, mas não atendeu ao celular.
Ministério da Fé
O irmão de Sandra, Fadi Faraj é proprietário da Comunidade Cristã Ministério da Fé. A igreja possui prédios em Taguatinga, no Gama, no Plano Piloto e no Recanto das Emas e tem milhares de fiéis.
O projeto social Sim para a Família é uma ação da igreja realizada há mais de 10 anos e, segundo o site oficial da congregação, já atendeu mais de 30 mil famílias nas regiões mais carentes do DF. O trabalho realizado é para recuperar dependentes químicos e em apoio às famílias.
Verba indenizatória
Sandra Faraj foi envolvida em outra denúncia na última semana. A distrital teria usado irregularmente dinheiro da verba indenizatória da Câmara Legislativa do DF. Ex-servidor do gabinete da deputada, Filipe Nogueira diz que a parlamentar pegava notas da empresa Netpub, de propriedade de sua esposa, Michelly Nogueira, e não repassava o pagamento pelos serviços prestados.
A deputada nega as acusações e diz que as notas com carimbo de “recebido” estão no site da Câmara Legislativa. Entretanto, desde o surgimento das denúncias, Sandra não apresentou os comprovantes de pagamento, como depósitos bancários, cheques ou boletos. A falta de documentos motivou um pedido de informações por parte da ONG Adote um Distrital, no último dia 14.
A reportagem do Metrópoles entrou em contato com a assessoria e ainda com os advogados da parlamentar, mas os documentos não foram apresentados.