Vítimas de extorsão relatam comportamento violento de Edson Silva, preso nesta terça (1°/12). Veja vídeo
“Tentamos denunciar diversas vezes, mas éramos ameaçados. Ele dizia que ia ter um ‘banho de sangue'”, disse uma das vítimas do líder do Movimento de Resistência Popular
atualizado
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Ao longo de novembro, o Metrópoles conversou com famílias chantageadas por Edson Francisco da Silva (foto), líder do Movimento de Resistência Popular (MRP), preso nesta terça-feira (1º/12), e outros integrantes da organização criminosa desbaratada pela Polícia Civil. Com o grupo, foram encontradas armas de fogo e uma espada. Também foram apreendidos R$ 26 mil em espécie, que estavam na casa de Francinaldo Silva, um dos coordenadores do grupo. Francinaldo está foragido. O MRP orquestrou as invasões dos hotéis St. Peter e Torre Palace, em setembro e outubro, respectivamente.
Cada família que recebesse auxílio-aluguel, de até R$ 600, era obrigada a repassar R$ 300 para os criminosos. O valor começou em R$ 50, mas aumentou nos últimos meses. A região com o maior número de vítimas é Brazlândia, com 80 famílias extorquidas.
A reportagem também ouviu pessoas que atuaram com Edson em movimentos sociais, além de servidores dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) . As vítimas foram unânimes ao descrever Silva como um homem violento e vingativo. Na manhã desta terça, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), deflagrou a Operação Varandas para desarticular o esquema de extorsão.
“Eles não tinham temor de entrar nas casas das famílias, até mesmo quando havia crianças, para intimidar as vítimas”, disse o delegado Luiz Henrique Sampaio Dourado, da Deco.
Taxa
Uma moradora de Brazlândia, que preferiu não se identificar por motivos de segurança, conta que o grupo ainda liderava o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) quando a abordou para exigir o pagamento da “taxa”.
Eu disse que não pagaria, porque não era correto. Foi ai que começaram as ameaças
Vítima da quadrilha de Edson da Silva
As chantagens consistiam em suspender o benefício e ameaçar as famílias com uso de arma de fogo. Também em Brazlândia, uma funcionária do Cras teve de ser afastada das funções após desafiar os criminosos. “Ela teve a casa invadida em 2014 e era ameaçada por telefone. Ela orientava as famílias a não pagar o valor e a denunciar o caso”, contou uma colega de trabalho da vítima.
Ao Metrópoles, outra servidora do Cras relatou que recebeu a primeira denúncia em maio deste ano. Segundo ela, uma família de Santa Maria procurou o órgão para relatar a extorsão. “Ela dizia que não achava justo pagar a taxa sabendo que era direito dela”, destacou.
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Armas e carros de luxo
Integrantes que acompanharam as negociações de Edson a fim de assegurar o benefício para as cerca de 900 famílias do MTST afirmam que, há cerca de dois anos, descobriram que o dinheiro cobrado pelo coordenador era usado na compra de armas e carros de luxo — um Toyota Corolla modelo 2015, avaliado em R$ 85 mil. Edson morava com a mulher em um condomínio de Taguatinga.
“Tentamos denunciar diversas vezes, mas éramos ameaçados. Ele dizia que ia ter um ‘banho de sangue’. Ele nos mostrava que tinha armas e, muitas vezes, em meio ao acampamento, chegava a efetuar tiros para o alto”, desabafou um dos integrantes do movimento, que também não quis se identificar.
Edson saiu de São Paulo, onde trabalhava como vigilante, em direção a Brasília em 2010. O objetivo era implementar o MTST na capital, com outra militante, com quem se casou e teve um filho. Há cerca de três anos, conheceu Ylka Carvalho em um dos acampamentos levantados em Brazlândia. Assumiu o relacionamento com Ylka, que, na época, cursava direito, e estabeleceu, definitivamente, a cobrança da tarifa. Em maio deste ano, os sem-teto os expulsaram do grupo. Edson e Ylka, então, criaram o Movimento de Resistência Popular.
Auxílio-aluguel
O benefício de até R$ 600 é concedido para famílias sem moradia, incluindo àquelas que integram o MRP e o MTST. São excluídos os beneficiários que retornam a situações de ocupação irregular de terras públicas ou privadas, bem como aqueles que empreguem os valores recebidos para fins diversos do pagamento de aluguel residencial.
Somente profissionais da assistência social podem autorizar a concessão de benefício excepcional, podendo levar em consideração outras situações de vulnerabilidade.