Polícia deflagra operação para combater organização criminosa em movimentos sociais do DF
Um dos principais acusados de encabeçar o esquema é Edson Silva, líder do Movimento de Resistência Popular (MRP)
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou uma operação, na manhã desta terça-feira (1º/12), para desarticular uma organização criminosa que usava movimentos sociais para para adquirir dinheiro por meio de extorsão. As ações são coordenadas pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco). Desde as primeiras horas da manhã, agentes cumprem 12 mandados de prisão por organização criminosa, extorsão e homicídio.
Os principais acusados de encabeçar o esquema são: Edson Francisco da Silva (foto), líder do Movimento de Resistência Popular (MRP) e sua mulher Ylka Carvalho. A operação foi denominada de Varandas, nome do prédio em que Edson mora em Taguatinga. Até às 6h40, seis pessoas haviam sido presas, entre elas Edson e Ylka. Quatro armas também foram apreendidas.
O esquema
O grupo de Edson extorquia famílias do movimento social que recebiam o auxílio aluguel, benefício no valor de até R$ 600. A organização cobrava, mensalmente, cerca de R$ 50 das quase 900 famílias que integravam o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) – a prática teria sido aplicada também no MRP.
As famílias que não cediam à cobrança recebiam ameaças que iam desde a suspensão do o benefício a violência física. O lucro da quadrilha era de, no mínimo, R$ 45 mil por mês. O dinheiro era aplicado em automóveis, eletrônicos e casas no DF. Durante as buscas, R$ 26 mil em espécie foram apreendidos.
Em maio deste ano, o MTST divulgou uma nota comunicando a expulsão de Silva. “Edson e alguns militantes recusaram-se a afastar-se e por isso foram expulsos. Permaneceram no movimento o grupo de militantes dispostos a seguir nossos princípios, sem cobranças nem chantagens”, diz o comunicado. Edson foi um dos responsáveis por trazer o MTST para Brasília. Após ser expulso do grupo, ele criou o MRP.
Ocupações
Só neste ano, o Movimento de Resistência Popular fez quatro grandes ocupações no Distrito Federal. A primeira foi no Setor Bancário Norte, em setembro. Após serem retirados do local pela Polícia Militar, o grupo invadiu o hotel St. Peter, onde ficou por uma semana. Foi ai que o Governo do Distrito Federal resolver remanejar os sem-teto para o clube Primavera, em Taguatinga.
Contudo, em 25 de outubro, o governo fez uma grande operação de retirada, após a constatação de que os invasores estavam construindo barracos de madeirite dentro do clube, descumprindo o acordo feito para que eles ficassem ali temporariamente.
Outro motivo que levou a desocupação da área é que os responsáveis pelo MRP não regularizaram a situação cadastral do movimento junto à Codhab e, por isso, não foi possível incluir os 240 integrantes na lista dos programas habitacionais de baixa renda. Segundo o governo, muitos dos invasores teriam moradia. Com objetivo de pressionar o governo, o MRP invadiu, na madrugada de 23 de outubro, o hotel Torre Palace. Local onde a Polícia Civil também fez buscas nesta manhã.
Repúdio
O Movimento de Resistência Popular (MRP) divulgou uma nota repudiando a ação da Polícia Civil. No texto, o grupo definiu a Operação Varandas como “mais um ataque violento feito pela polícia e pelo GDF contra o movimento popular”.
Entre os esclarecimentos, o MRP afirmou que o material apreendido pelos policiais já pertencia aos integrantes do movimento antes de entrarem no grupo. “Nenhum militante do movimento tem vida rica ou fácil, ao contrário, vários militantes do movimento trabalham duramente e não conseguem renda suficiente para comprar uma casa ou pagar aluguel”.
Por fim, o MRP avisou que não vai “parar” e nem se “render”. “Não mais aceitaremos ser parte de um amplo grupo que não tem acesso ao direito a moradia, enquanto os grandes especuladores devem milhões, estão envolvidos com todo tipo de falcatrua e possuem a proteção do Estado.”