Interpretação errada de decisão judicial coloca em liberdade duas suspeitas presas na Operação Varandas
Polícia Civil retoma as buscas para deter duas mulheres que participaram de invasões a hotéis de Brasília. Elas integram grupo que ameaçava beneficiários de programas sociais. Corporação vai investigar quem são os responsáveis por libertar a dupla
atualizado
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Um caso inusitado ocorreu na sexta-feira (5/12) no Presídio Feminino do Distrito Federal, a Colmeia. Ylka Carvalho (foto) e Sandra Pereira, duas integrantes do Movimento de Resistência Popular (MRP) presas na última terça-feira (1°), acusadas de integrar uma organização criminosa que extorquia famílias carentes, foram soltas devido a uma interpretação errada de um habeas corpus. Até a última atualização desta reportagem, as suspeitas continuavam foragidas.
De acordo com fontes do Metrópoles ligadas à investigação, agentes não entenderam a decisão do desembargador Roberval Belinati e soltaram as duas. Até a publicação desta reportagem, a Polícia Civil fazia buscas para encontrar Ylka e Sandra. Se forem detidas, elas devem ser encaminhadas novamente ao Presídio Feminino do Distrito Federal (Colmeia). A corporação vai abrir procedimento administrativo para apurar quem libertou as acusadas.Durante a Operação Varandas, coordenada pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), os agentes encontraram armas e dinheiro na casa de Gilson Arcanjo, 36 anos, apontado como o “chefe de segurança” do grupo. As oito prisões foram tipificadas como organização criminosa e também foi acrescentado o flagrante devido à apreensão das armas.
Após a audiência de conciliação, que ocorre no dia em que os suspeitos são detidos, o juiz que analisou o caso entendeu que, de fato, os integrantes do MRP deveriam permanecer detidos pelos dois crimes e expediu a prisão temporária de cinco dias, que pode ser prorrogada pelo mesmo período.
No entanto, o desembargador, ao analisar o caso para emitir o habeas corpus, chegou à conclusão de que não houve flagrante. O HC foi enviado à carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE) pedindo a soltura imediata dos suspeitos “se por outro motivos não estiverem presos”.
Ao receber a decisão, os policiais civis mantiveram os presos nas celas devido à denúncia do crime organizado. Contudo, na Colmeia, a conclusão foi outra, e as duas foram colocadas em liberdade. As prisões temporárias dos envolvidos, que venciam no sábado, foram prorrogadas por mais cinco dias.
A versão do advogado do MRP, Rodrigo de Carvalho, é diferente. “A polícia ainda não nos procurou. Sandra e Ylka estão em casa. Se for necessário, nós as levaremos para a delegacia”, destacou.
O advogado garante que não houve irregularidades na liberação das duas e diz que o mesmo habeas corpus vale para os seis homens que seguem detidos na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE). “Na verdade, não era nem para eles terem sido presos, não nos foram apresentadas provas de que há uma organização criminosa. Durante esta semana, vamos recorrer à Justiça para que todos os integrantes fiquem em liberdade”, disse.
Comemoração
No sábado, pelas redes sociais, integrantes do MRP comemoram a liberdade das integrantes do grupo. Mensagens de que duas mulheres foram soltas e que os homens seriam liberados até o fim do dia foram divulgadas na página de Facebook do movimento.
Hoje, um dia se muita felicidades! Os integrantes do Movimento Resistência Popular sai hoje de uma prisão injusta e…
Posted by MRP – Movimento Resistência Popular on Sábado, 5 de dezembro de 2015
Alguns integrantes do movimento chegaram a mandar avisos de que, com a liberdade dos suspeitos, seria feita uma festa no abandonado Torre Palace Hotel, localizado na Quadra 5 do Setor Hoteleiro Norte — em outubro, o grupo invadiu o espaço e só saiu depois que a Justiça determinou a reintegração de posse.
Saiba quem foi preso na terça-feira (1º)
– Edson Francisco da Silva: apontado como líder da organização criminosa
– Ylka da Conceição Carvalho: esposa de Edson e uma das coordenadoras do esquema
– Gilson Arcanjo da Silva: responsável pela segurança dos integrantes e por guardar as armas
– Edmilson Gonçalves do Nascimento: um dos seguranças. Segundo a Polícia Civil, ele teria matado uma pessoa em Santo Antônio do Descoberto (GO), no Entrono, uma semana antes da operação, devido a uma dívida de drogas
– Berto Florêncio dos Santos: um dos seguranças
– Diego Barbosa de Souza: acompanhava os coordenadores da organização
– Francinaldo da Silva (foragido): um dos coordenadores do MRP. Na casa dele, foram encontrados R$ 26 mil em espécie
Denúncia
Alguns integrantes do MRP se referem aos suspeitos detidos como “presos políticos”. Solange Oliveira, uma das coordenadoras do movimento, compareceu a uma audiência na Comissão de Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados, na última semana, e denunciou que há elementos obscuros na investigação.
“Acreditamos que foi por motivos políticos porque, nos últimos oito meses, ocupamos cinco lugares em Brasília. Nós mexemos com quem não devia, pobres não podem morar no centro da cidade. Forjaram as provas”, destacou. O MRP alega ainda que em maio protocolou documentos na comissão para prevenir supostas ações contra o grupo.
Operação Varandas
De acordo com investigação da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Edson Francisco da Silva, líder do MRP, e algumas outras pessoas ligadas a ele extorquiam famílias do movimento social que recebiam auxílio aluguel, benefício no valor de até R$ 600.
A organização cobrava, mensalmente, cerca de R$ 50 das quase 900 famílias que integravam o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) – a prática teria sido aplicada também no MRP, segundo a polícia. O valor da taxa no novo movimento teria chegado aos R$ 300.
As apurações da Deco indicam ainda que as famílias que não cediam à cobrança recebiam ameaças que iam da ameaça de suspensão do benefício à violência física. O lucro da quadrilha era de, no mínimo, R$ 45 mil por mês. O dinheiro era aplicado em automóveis, eletrônicos e casas no DF.
Durante a Operação Varandas, nome em referência ao edifício que Edson mora em Taguatinga, os policiais civis cumpriram 12 mandados de prisão por organização criminosa, extorsão e homicídio. A mulher do líder do MRP, Ylka Carvalho, também foi presa. Quatro armas e R$ 26 mil em dinheiro, além de televisores, chuveiros e roupas de cama furtados do hotel St. Petter, foram apreendidos.