Novas vítimas da máfia das próteses denunciam os médicos investigados
Depois de deflagrada a Operação Mister Hyde, pelo menos 15 pessoas já procuraram a Polícia Civil do DF para fazer mais denúncias contra os alvos das investigações.
atualizado
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A máfia das próteses pode ter feito um número muito maior de vítimas do que os 60 casos já identificados por policiais e promotores responsáveis pela Operação Mister Hyde, deflagrada na última quinta-feira (1º/9). Prova disso é que, depois da desarticulação do suposto esquema que seria comandado por médicos, ao menos outras 15 pessoas procuraram a Polícia Civil do DF para denunciar a conduta dos suspeitos.
Também nesta sexta-feira (2/9), três mulheres entraram em contato com um advogado e relataram complicações graves de saúde após passarem pelas mãos do grupo. Uma delas perdeu o movimento das pernas ao ser convencida a colocar uma prótese.
As outras duas vítimas relataram erros que poderiam ter sido fatais. “Em uma delas, colocaram uma medicação errada na medula, o que gerou várias complicações. A outra, uma servidora pública, passou por uma cirurgia e logo depois marcaram mais uma, mas elas não seriam necessárias”, completa o advogado. Todos os procedimentos foram feitos no Hospital Ortopédico e Medicina Especializada (Home), na 613 Sul, um dos alvos da Operação Mister Hyde.
O esquema
Segundo a investigação dos promotores e dos policiais civis, o grupo usava os procedimentos cirúrgicos para ganhar cada vez mais dinheiro. Entre as 13 pessoas presas na Operação Mister Hyde, estão médicos e representantes de empresas fornecedoras de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs). Destas, cinco foram soltas nesta sexta.
Segundo as investigações, cerca de 60 pacientes foram lesados em 2016 somente por uma empresa, a TM Medical. O esquema teria movimentado milhões de reais em cirurgias, equipamentos e propinas. Há casos de pacientes que foram submetidos a procedimentos desnecessários, como sucessivas cirurgias, para gerassem mais lucro para os suspeitos. Em outros, conforme revelado pelas investigações, eram utilizados produtos vencidos e feita a troca de próteses mais caras por outras baratas.
O outro lado
Em nota, o Hospital Home informou que os cirurgiões investigados não fazem parte do corpo clínico da unidade e “apenas utilizavam, eventualmente, as dependências do hospital para cirurgias”. Disse ainda que qualquer médico habilitado no Conselho Regional de Medicina (CRM) pode realizar procedimentos na unidade. “Sendo assim, nos casos citados na investigação, o Home prestou exclusivamente serviços hospitalares, sem qualquer interferência ou participação nas condutas médicas, dentre as quais, a indicação, aplicação e escolhas de órteses e próteses.”
Sobre a acusação de uma das vítimas, de tentativa de suborno para que ela não denunciasse médicos, o hospital diz que os fatos “estão sendo distorcidos e que está impedido de se manifestar publicamente para esclarecimento da verdade em observância ao dever de guardar sigilo sobre os dados constantes do prontuário médico desta paciente”. “A direção do Home lamenta qualquer ilicitude que porventura tenha sido praticada por profissionais médicos em desfavor de seus pacientes e manifesta ampla solidariedade a todos aqueles que possam desafortunadamente ter sido alvos da ação dos denunciados”, conclui a nota.
Dinheiro recolhido
Além das 13 prisões, os investigadores cumpriram 21 mandados de busca e apreensão e recolheram mais de R$ 500 mil em dinheiro (real, dólar e euro) nas casas dos suspeitos na última quinta-feira. A Operação Mister Hyde, que recebeu este nome em alusão ao filme de terror “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, movimentou mais de 200 policiais e 21 promotores do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).