No Hran, o mesmo elevador transporta cadáver, paciente e refeições
Três semanas após o Metrópoles denunciar que pessoas internadas dividiam os elevadores com lixo, problema se agravou no Hran
atualizado
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A vida e a morte ainda se cruzam, literalmente, no elevador do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Três semanas após o Metrópoles noticiar que apenas dois dos seis ascensores da unidade de saúde estavam em operação, a situação se agravou. Hoje, apenas um funciona e um vídeo gravado na manhã desta quinta-feira (8/12) revela que a situação está dramática: o mesmo equipamento transporta cadáveres, pacientes e refeições das pessoas internadas na instituição.
Nas imagens, uma paciente é levada sobre uma maca pelo saguão do Hran. A pessoa que filma reclama das condições do transporte, uma vez que eles são obrigados a passar pela sala de espera na entrada do hospital, onde há muito vento. Ao chegar no elevador, eles entram “na fila”. À frente, outro funcionário aguarda para levar um corpo, todo coberto por um lençol branco. Em seguida, uma servidora chega com as bandejas do almoço para os pacientes e acompanhantes. A filmagem foi feita por volta das 11h30 desta quinta (8).
Veja o vídeo:
“O mesmo elevador que transporta o corpo também leva as refeições que serão entregues a todas as pessoas internadas no hospital”, diz o homem que fez a filmagem. Ele trabalha no Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do DF (SindSaúde).
O sindicalista reforça a situação denunciada pelo Metrópoles em 15 de novembro: “Desce de tudo” pelos únicos elevadores que funcionam no Hran. Além de pacientes, acompanhantes, médicos, enfermeiros e demais servidores, são transportados sacos de lixo infectado, refeições, roupas sujas e roupas limpas.Só um elevador em operação
Procurada para comentar o assunto, a direção do Hran confirmou que apenas um dos elevadores está funcionando na unidade. “Eles estão sem contrato de manutenção, porém, um técnico da Novacap está no hospital para fazer a avaliação do que será necessário fazer para voltarem a funcionar”, disse a unidade, por meio de nota.
Ainda segundo o Hran, o hospital “utiliza elevadores diferentes para a execução de serviços ‘limpos’ (visitante, pacientes, internação alimentação e roupa limpa) e para serviços ‘sujos’ (lixo, roupa suja e óbito). O fato ocorrido nesta quinta-feira (8) foi isolado, pois o cadáver era de uma paciente que havia acabado de chegar via aérea, pelo Corpo de Bombeiros, após tentativa de ressuscitação cardiopulmonar”.
Meses de espera
Em novembro, os defeitos afetavam quatro dos seis ascensores da unidade. Segundo relatos de servidores, os problemas se arrastavam desde outubro, mas se agravaram no início de novembro. De acordo com os funcionários, os dois elevadores que ainda funcionavam apresentavam falhas com frequência e, muitas vezes, quebravam com pessoas dentro.
O Hran tem sete andares. Pela entrada principal, no térreo, é possível acessar o centro cirúrgico, a unidade de terapia intensiva (UTI), o pronto-socorro e a pediatria. O problema é quando há a necessidade de subir ou descer os pavimentos. A unidade de queimados — setor de referência do Hran —, por exemplo, fica no terceiro andar.
“Vi o mesmo elevador usado para transportar o lixo levando pacientes sedados. Também já presenciei, diversas vezes, macas sendo carregadas pela escada”, contou uma servidora que pediu para não ser identificada.
Na época, a direção administrativa do Hran confirmou que os elevadores estavam parados para manutenção. De acordo com a Secretaria de Saúde, a empresa responsável por fazer os reparos já havia sido acionada. “Para o conserto, são necessárias peças que não temos no Distrito Federal. O pedido foi feito e virá de São Paulo. Deve chegar nos próximos dias”, informou a pasta, por meio de nota. No entanto, mais de 20 dias se passaram e, até agora, nada.
Água gelada e cheiro de cadáveres
O Hran tem sido palco de uma série de problemas nos últimos meses. Em julho, em pleno inverno, quem estava internado na unidade teve que tomar banho de água fria porque as caldeiras encontravam-se quebradas.
Em setembro, a câmara mortuária, onde são guardados os cadáveres de pacientes que morreram na unidade, estava sem a devida refrigeração. Dessa forma, o cheiro dos restos mortais em decomposição podia ser sentido nos corredores do hospital.